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Tarrafal, minha última lágrima!
Colunista

Tarrafal, minha última lágrima!

Este cantinho nosso, apesar dos desmandos e da desordem, continua sendo o melhor lugar para a reposição das energias. Só Deus sabe o quanto minha letra treme e minha caneta sofre a cada vez que me vejo obrigado a devolver ao universo o peso da maldade que até poucos dias pairou sobre minha cidade!

Contudo, pior ainda seria deixar meu silêncio se calar e perder entre o medo que vive trancado à saida do peito das massas que nem cálice de vinho bom quando trilha o corpo do vigário que reza a missa de boas vindas do novo ano promissor que esperamos receber, como presente do perdão de “nossas culpas e tão grandes culpas”.

Minha vivência com o poder enfermo de Tarrafal, gera a pior das impressões que se pode criar à volta do desempenho de uma missão que perante a “nobreza da classe”, se veste de cordeiro sobre a pele do próprio diabo, quase sempre, enganando a Santo Amaro, para de ano em ano engolir esperanças e sugar o tempo que passa distraído e nossos olhos cegar diante da poeira que embasa parabrisas, da lama que encharca o pedestal, do escombro que enfesta o litoral e de minha rua que avista Graciosa pelada, sem eu poder fazer nada, pois, mesmo o oxigénio já é viciado e não encontra pulmão recetor.

Como posso ficar inerte perante o governate que mexe comigo, deixa meu espírito irrequieto, atira meu corpo ao chão e nele pisa, literalmente, sem piedade, dá de comer veneno à caninada, cria um viveiro de insectos picadores - sugadores, inunda minha cuna de betão, protege o compadre, leva daqui minha universidade, atira a liteira do pobre à rua, vai às compras montado no meu ombro, se contenta com a carne da beira da estrada e na partida - embala uma prenda de despedida - tendo eu a consciência do despejar de espinhas em meu próprio leito?

Como seria prazeroso bradar aos ventos o bom que é nascer no paraiso, sem andar descalço sobre espinhos atirados entre ossos puntiagos das mesas fartas dos barrigudos que escondem brazas debaixo das cinzas, sob a máscara da arrogância e a arma do silenciamento, como armadilha para sensurar o pisar dos mansos, afastar a ternura dos bons e manter as muralhas e moradas do povo, todas elas ocupadas com alianças de desamores!

Quantos de nós já nâo fomos afastados, prematuramente e levados de pés juntos para "Achada Baixo" ao som do pranto e do ritmo das cordas que acompanha o cortejo da eternidade, quantos de nós, Tarrafal! Isto quando não ficamos paraplégico ou com sequelas insanáveis! Tarrafal e seu poder viciado, Viveu o auge de sua conquista satânica! O ritual da missa e reuniões cristãs, são desfarces de fachada, apressando seus pés à casa da malfeitoria que domina o coração dos pseudo-paroquianos à barba de Amaro – O Santo que de tanto ver, já nem se encomoda, pois há muito que entregou o assunto a Deus.

Esta minha última lágrima, enxugada com esperança , acaba de ser derramada e navega no universo até ao centro de luz, procurando entre a plumagem do anjo mais nobre, qual a mais macia e vigorosa membrana que eu possa emprestar e vir encaixar aos braços valentes do povo de Tarrafal, para trabalho não faltar e assim, esta ultima lágrima, a pena valer em seu abençoar.

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