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Recusa de evacuação. Olímpio Varela vai apresentar queixa contra o Estado
Sociedade

Recusa de evacuação. Olímpio Varela vai apresentar queixa contra o Estado

O enfermeiro Olímpio Varela vai intentar uma acção judicial contra o Estado de Cabo Verde por danos morais e negligência médica. Em causa, o facto de, mesmo perante conselhos de cardiologistas, a Junta Médica ter rejeitado aprovar a sua evacuação urgente para Portugal onde deveria efectuar exames e "estudos das artérias coronárias e eventual tratamento num centro especializado de hemodinâmica".

Ainda a recompor-se da cirúrgia feita recentemente nos Estados Unidos, o enfermeiro Olímpio Varela, 84 anos, falou com Santiago Magazine e confirmou que está a preparar uma queixa contra o Estado cabo-verdiano por danos causados à sua pessoa. "Vou exigir que seja indemnizado por danos morais, desrespoinsabilização do estado nos cuidados médicos e ainda irei requerer a devolução de todo o dinheiro por mim gasto nos transportes, análises, hospedagem, alimentação e estadia em Portugal e EUA, onde só não fui, às espensas do Estado, porque a Junta desaprovou a minha evacuação alegando que, com a minha idade (84 anos) já não valia a pena avançar com o tratamento", aponta Varela, insistindo na busca pelos seus direitos enquanto cidadão responsável e pagador de impostos.

A queixa, segundo revelou ao Santiago Magazine, deverá dar entrada nos tribunais o mais breve possível, isto é, assim que o seu advogado reunir todos os elementos de prova que irão sustentar a acção judicial. O antigo enfermeiro afirma não abrir mão desse seu direito e promete ir atè às últimas instâncias para ver ressarcido dos prejuízos que lhe foram causados.

Este caso, como Santiago Magazine reportou há três meses (4 de Agosto) através da publicação de uma carta aberta assinada pelo próprio paciente a denunciar publicamente o tratamento discriminatório a que foi sujeito pela Junta de Saúde do Hospital de Sotavento, negligenciando o seu estado de saúde.

Já nessa altura, Olímpio Varela apontava, num artigo publicado por Santiago Magazine e intitulado "A forma subtil de matar sem ser criminalizado", para o facto de a Junta ter-se baseado em pareceres desfavoráveis de duas médicas (Dra. Luiza Santiago e Dra Iolanda landim) que não são cardiologistas, em detrimento da posição favorável de três especialistas de doenças do coração, cujo parecer foi inclusive encaminhado para a Junta.

"No dia 24 de Dezembro de 2018, por ter sentido um ligeiro desconforto e que desconfiei ser de origem cardíaca, dirigi-me a uma clínica para ser observado por um cardiologista. Logo que examinado, o mesmo pediu-me para fazer umas análises e exames com caráter de urgência. Ordem dada, ordem cumprida, no mesmo dia. Lendo o resultado, aquele cardiologista sugeriu que se repetisse a análise, dado o valor de um parâmetro que se revelou muito anormal, conforme suas palavras. Na sequência do resultado desta segunda análise, o médico sugeriu que eu fizesse outros exames - pediu um ecocardiograma e uma prova de esforço, em contraponto às análises anteriores. Nos dois exames foram constatadas alterações anormais, denotando irregularidades no trabalho do coração. Perante essas constatações, o referido cardiologista achou por bem encaminhar-me a outros dois colegas para darem a sua opinião quanto ao que ele pensa ser a causa das alterações verificadas e confirmadas em todos os exames efectuados. Também queria que esses colegas opinassem sobre a necessidade de eu ser enviado à “junta de homicídio lento” (que se convencionou chamar de “Junta de Saúde”), para posterior evacuação para Portugal, a fim de ser submetido a uma inspeção do coração, dada a impossibilidade de em Cabo Verde se proceder a uma coronariografia para inspeccionar e corrigir eventual entupimento parcial (antes de um entupimento total, que leva à morte súbita) de um ou mais vasos do coração. Essa inspecção consiste na introdução de um catéter num dos vasos no pulso ou na virilha que vai até ao coração, sempre controlado através de um monitor, permitindo que uma eventual anomalia detectada seja corrigida de imediato", contara Varela nesse artigo.

O mesmo fez saber ainda que "três cardiologistas (Dr. Ivan Miranda, Dr. Luís Dias , Dr. Fernando Tavares) observaram-me e informaram-me o que achavam que estava a acontecer com o meu coração, bem como o que pensavam fazer, isto é, me enviarem, de imediato, à “Junta da morte lenta” para efeitos de evacuação. Assim, aos exames e análises feitos, juntaram duas notas, sendo uma o conteúdo da acta, que produziram aquando da observação a que fui submetido, e a outra o pedido endereçado à “Junta” para confirmar a minha evacuação".
Dias, indicou Olimpio Varela, ´foi um dos três médicos da Junta que rejeitaram o pedido de evacuação, quando antes, havia assinado, juntamente com os drs. Ivan Miranda e Fernando Tavares um documento a confirmar a urgência da evacuação.

Hoje, três meses depois de o caso vir à baila, Olímpio Varela está de regresso à cidade da Praia, depois da cirurgia de substituição de três vasos sanguíneos que já estavam entupidos. "O médico que me operou disse-me que sou sortudo, porque o meu caso era grave. Aliás, aqui na Praia os médicos cardiologistas que me observaram haviam me alertado para o risco de sofrer um enfarte a qualquer momento. Felizmente, já fiz o tratamento e a cirurgia correu lindamente, apesar de ter demorado cinco horas", afirma.

Agora, o processo vai parar ao tribunal, onde Olimpio Varela espera ver reposta a justiça a seu favor, através da condenação do Estado de Cabo Verde, na qualidade de responsável máximno pelas instituições de saúde que lhe negaram saúde por ser um octagenário, ao pagamento de respectiva indemnização.

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Redação