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Seca em Cabo Verde. Oportunidades de combate
Ponto de Vista

Seca em Cabo Verde. Oportunidades de combate

A seca não deve ser considerada uma fatalidade em Cabo Verde. Existem várias formas e oportunidades de combater os efeitos da seca, driblando as agruras da natureza, sobretudo no que diz respeito à pecuária.

Tomando como exemplo o Brasil, a cultura do capim e a cana de açúcar resolveriam o problema do volumoso de primeira importância para a saúde animal.

O PH ideal do rumem animal situa-se entre 6 e 7; a ração industrial tende a baixar o valor de PH de 6 para 5 o que leva o animal à cetose, de 5 a 4 à acidose. O rumem bloqueia-se e o animal deixa de comer, fica frustrado e se não for tratado de forma adequada pode morrer.

O volumoso é o que regula o PH e que mantem os valores aceitáveis.

Os brasileiros com a cana de açúcar fazem, sim, a cachaça, mas também o leite e a carne. Um hectare de capim gramão ou elefante pode produzir em regadio mais de 250 toneladas de matéria verde “7 – 8 cortes” ou 100 toneladas de matéria seca “feno”. Significa que pode manter mais de 20 vacas por hectare e mais de 100 cabras (a média europeia com silagem de milho “silomais” é de 7 a 8 vacas, cada uma com 8-9 toneladas).

Um hectare de cana de açúcar também pode produzir 130 – 150 toneladas de volumoso. Dá para manter 10 - 15 cabeças de gado bovino.

É de salientar que o capim em grandes quantidades e em ótima conservação de mais de 18 meses, serve perfeitamente para fazer silagem

Mais uma palavra do ponto de vista genético: hoje em dia usufruindo das novas tecnologias pode se trabalhar com a implementação dos embriões. Exemplo: uma vaca autóctone de baixa capacidade genética leiteira poderá receber um embrião de uma Girolanda F1 ou F2 brasileira ou uma Holsten Europeia de média ou boa genética leiteira; os embriões são sexuados 92% fêmeas. Depois de 9 meses e 20 dias nascerá uma vitela com características genéticas diferentes da vaca parturiente; aos 6 meses iniciará a puberdade que se completará aos 12, 13 meses de vida.

Aos 15 meses já pode ser engravidada, ao segundo aniversário de vida irá parir e iniciar a sua carreira produtora: 305 dias de lactação, 60 dias de seca, parto, recomeça o ciclo. A produção média prevista será de 6 a 7 mil litros. O gado bovino poderia ser geneticamente melhorado em tempos muito breves.

É isso que o país precisa. Vamos a um último exemplo: um criador que tiver duas parcelas de mil metros quadrados de regadio de capim poderá produzir 50 toneladas de volumoso e manter 5 vacas Girolandas F1 ou F2 com os recém-nascidos. Poderá produzir cerca de 30 toneladas de leite, mais 5 vitelos contando com uma entrada de mais ou menos 1.600 a 1.700 contos/ano.

Cada município poderá ter um centro de colheita de leite, com um tanque de refrigeração para manter o leite entre os 4 a 6 graus celcius e que poderá ter uma capacidade de recebimento de 2 dias.

A união de vários municípios poderia dar lugar a uma queijaria produtora de vários produtos lácteos bovinos e caprinos, toda a gama de produtos importados com um olhar particular para o yougurte. Cada ilha poderia ter o seu produto DOC – Denominação de Origem Controlada.

A Tecnicil fez grandes investimentos na regeneração do leite em pó e por conseguinte o tratamento VHT. Penso que juntamente com a Yougurel e outros poderão no futuro ter interesse na produção nacional do leite.

Qualquer estudo de mercado diria que neste momento as indústrias não poderiam contar com matéria prima nacional.

Tenho certeza, porém, que o tempo nos trará indústria de lacticínios em Cabo Verde.

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Redação