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Programa de salvamento de gados peca pela ausência da eficácia
Ponto de Vista

Programa de salvamento de gados peca pela ausência da eficácia

Muitas têm sido as vozes daqueles que têm acompanhado, com muita preocupação, a situação por que passam as famílias no mundo rural. O ano agrícola foi muito mau como é sabido, mas os seus efeitos poderiam ser bem menores se houvesse intervenção atempada e acertada das autoridades.

Já em finais de Agosto de 2017, era perceptível o prenúncio do mau ano agrícola. Porém, o governo, através do Ministério da Agricultura e Ambiente, só se apercebeu dos sinais, salvo erro a 04 ou 05 do Outubro, portanto sessenta dias depois. Foi a partir desta altura que o Ministro do sector, afirmou que iria proceder à avaliação do ano agrícola para, em consequência, gizar plano com vista à sua mitigação.

A sessão parlamento do mês de Outubro debruçou sobre este assunto, tendo o partido da oposição solicitado ao governo a implementação imediata do plano de emergência, que na perspectiva dos Cabo-verdianos e do PAICV, já vinha muito tarde, posição contrariada pelos deputados da situação que até acusaram os partidos da oposição de quererem tirar proveito político da situação da seca por que passava e passa o país. Uma semana depois, ou seja a 31 de Outubro de 2017, o governo aprovou em Conselho de Ministros o Regime Especial de Benefícios Fiscais na importação dos alimentos para gados.

O reconhecimento da situação periclitante relacionada com o mau ano agrícola foi tardio. O governante responsável pelo sector da agricultura e pecuária só veio a tomar pulso da situação, com a sua primeira visita ao interior da Ilha de Santiago, a maior ilha agrícola do país, na primeira semana do mês de Outubro, mesmo com todo o grito de socorro que vinha dos homens do campo. Em finais de Setembro , mais concretamente no dia 22, em plena seca anunciada, o Ministro da agricultura, instado a falar à comunicação social, na sequencia da sua participação na COP 13 que decorrera na China, disse que iria avaliar a situação em detalhes e que identificaria as medidas que seriam tomadas em caso de se registar a situação de seca no país. Para o governo, nas palavras do senhor Ministro da Agricultura, ainda era cedo (22 de Setembro de 2017) para trabalhar ou implementar qualquer plano de emergência.

Presume-se que a situação foi sendo conhecida e no início de 2018, algumas das medidas anunciadas pelo governo, começaram a ser implementadas, nomeadamente a abertura, em alguns Concelhos, das Frentes de Alta Intensidade da Mão-de-obra (FAIMO) que, em abono da verdade, é o único componente do Plano de mitigação dos efeitos da seca e do mau ano agrícola que efectivamente funcionou ou ainda funciona. Justiça seja feita!

Relativamente à vertente salvamento de gado, os vales cheques são os únicos instrumentos que efectivamente terão alcançado quase todos os criadores mas que não passaram de mera expectativa para solução do problema. A metodologia adoptada pelo governo, cedo revelou ser inadequada e desajustada à real situação por que passa as famílias rurais, particularmente os criadores de gados.

O reduzido valor facial – 300$00 de subvenção do estado por cada saco de 40kgs de ração ao preço de 1.480$00, associado à incapacidade das famílias em comparticipar com cerca de 1.180$/saco, são apontados como uma das causas do seu insucesso;
A clara insuficiência dos postos de distribuição de rações com subvenção do estado, aliada à resistência dos revendedores em aceitarem os vales cheques, são também outras causas que contribuíram e contribuem para o quase nulo impacto desta medida.

A recente declaração do Senhor Presidente da Assembleia Nacional sobre a ineficácia do plano de mitigação dos efeitos da seca e do mau ano agrícola no capítulo salvamento de gado, é retrato fiel do que está a acontecer em todo o mundo rural, que reclama dos poderes públicos mais e melhores políticas públicas particularmente neste domínio.

Só está equivocado quem não visite o campo.

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Redação