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Pedro Pires e mais oito ex-líderes africanos pressionam Kabila a entregar poder na RD Congo
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Pedro Pires e mais oito ex-líderes africanos pressionam Kabila a entregar poder na RD Congo

Conflitos no segundo maior país de África já causaram 1,5 milhões de refugiados, três vezes mais do que na Síria. Tudo porque Joseph Kabila, há 17 anos no poder e cujo mandato expirou há 5 meses, se recusa a deixar o cargo.

As pressões internacionais para Joseph Kabila, presidente da República Democrática do Congo (antigo Zaire), sair do poder e "proporcionar uma transição democrática pacífica no seu país" aumentaram esta semana com nove antigos chefes de Estado africanos, entre os quais Pedro Pires, a mostrarem-se consternados com o que se passa no segundo maior país da África.

Thabo Mbeki (África do Sul), Boni Yayi (Benin), John Kufuor (Gana), Olusegun Obasanjo (Nigéria), Benjamin Mkapa (Tanzânia), John Mahama (Gana), Pedro Pires (Cabo Verde), Cassam Uteem (Ilhas Maurícias) e Festus Mogae (Botswana) juntaram a sua voz ao de Kofi Annan (ex-secretário geral da ONU), considerando que a situação na RD Congo é “perigosa” e “uma ameaça para toda a África”.

Moïse Katumbi, líder da oposição, anunciou que vai regressar à RDC com suporte da Comissão dos Direitos Humanos da ONU, exigindo protecção para poder circular livremente como candidato às eleições presidenciais.

Desde então, já voltou a eclodir a violência étnica na região, que já provocou milhares de refugiados. "A crise, em grande parte esquecida, na RDC superou todas as demais crises em número de pessoas que se viram obrigadas a fugir de suas casas (...) incluindo a Síria ou as guerras brutais do Iémen" disse a directora do Conselho Norueguês para os Refugiados na República Democrática do Congo, Ulrika Blom.

Segundo os dados divulgados, mais de 1,5 milhões de pessoas fugiram de suas casas na República Democrática do Congo em 2017, o maior número a nível mundial de deslocados internos registado devido a conflitos.

Os conflitos prolongados do país já provocaram cerca de 2,2 milhões de deslocados internos e mais de 550.000 refugiados em países vizinhos, segundo os últimos dados registados pelo Conselho, que trabalha na zona. A ONU diz que desde Agosto de 2016, o número de deslocados no Congo mais que triplicou e já terá afectado 3,7 milhões de pessoas – na Síria a guerra causou 824.000 refugiados internos e externos e os conflitos no Iraque originaram 659.000 movimentações forçadas.

"A crise na RD Congo é a mais esquecida no mundo. Apesar de mais de sete milhões de pessoas necessitarem de ajuda, o financiamento internacional de 813 milhões de dólares é somente 20% do que se necessita", sublinhou Ulrika Blom.

Dezenas de grupos armados continuam a lutar por recursos naturais, atacando as populações locais. Para fugirem à violência das milícias, mais de 30.000 refugiados congoleses são agora refugiados no Dundo, capital da Lunda Norte, em dois centros temporários que, até Julho, serão substituídos por um novo campo preparado para o efeito e com capacidade para receber até 50.000 pessoas.

Kabila governa a RD Congo há 17 anos, após suceder o pai, assassinado por um guarda-costas. Os últimos meses foram terríveis. O seu mandato expirou mas ele se recusa a largar o cargo. A RD Congo depende da exportação do cobre, do cobalto e de diamantes. Quase todos os produtos manufacturados são importados. Apesar do rio que atravessa o país e das chuvas abundantes, devido à infraestrutura precária, quase todos os alimentos são também importados.

A instabilidade politico-militar na RD Congo centra-se em Kasaï, o principal reduto de oposição ao governo de Kabila e província natal do veterano líder oposicionista, Étienne Tshisekedi. Tshisekedi morreu em Fevereiro, mas o filho Félix assumiu a liderança de seu partido. Nos termos de um acordo concluído entre o governo e a oposição em 31 de Dezembro, as autoridades têm um prazo de um ano para realizar novas eleições, com o compromisso de Kabila de não concorrer à reeleição.

Há 20 anos, o ditador Mobutu Sese Seko, que governou o país de 1965 a 1997, foi derrubado por rebeldes apoiados por tropas da Ruanda, e substituído pelo pai de Kabila. Pouco depois, a RD Congo mergulhou em uma terrível guerra civil. Os próximos meses mostrarão se o país tem condições de fazer uma transição pacífica de poder ou se o caos irá mais uma vez dominar a cena política.

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Redação