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Uma ilha. Duas regiões. Um campeonato
Ponto de Vista

Uma ilha. Duas regiões. Um campeonato

O campeonato de futebol a nível nacional está dividido em duas fases: regionais e nacional. O campeonato regional é disputado a nível das regiões. Nacional é a disputa entre os campeões das competições regionais. Por exemplo, a ilha de santiago, a maior ilha do país, com uma área geográfica de 991 km2, uma das mais montanhosas, a mais populosa, com 9 concelhos, está dividida, desportivamente, em duas regiões sul: Praia (capital do país), São Domingos e Ribeira Grande de Santiago; norte: São Lourenço dos Órgãos, São Salvador do Mundo, Santa Catariana, Tarrafal, São Miguel e Santa Cruz.

A região sul da ilha, a mais rica. Capital do país. É a região com mais e melhores condições, movimentando maior número de atletas (praticamente, em todas as modalidades). Onde tudo está concentrado, tendo, por exemplo, menos gastos de deslocação comparativamente com a região norte da ilha. Dispõe ainda de uma maior capacidade na mobilização dos patrocinadores. Ainda, por motivos vários, tem a maior cobertura dos Mídias, principalmente da televisão pública nacional e privado, do que a região norte. Do conjunto de concelhos que constituem a região sul da ilha, o único que não dispõe de campo relvado é Ribeira Grande de Santiago, mas, dado a sua a proximidade a outros concelhos, é facilmente colmatado pelas das dos vizinhos.

Ora, Santiago norte, geograficamente, é uma das maiores regiões do país, envolvendo um total de 6 concelhos e mais de 120 mil habitantes. Em termos desportivos é, também, uma das maiores regiões do país, com associações desportivas de todas as modalidades praticadas localmente: voleibol, futebol, basquetebol, atletismo, andebol, artes marciais, etc., e a nível de futebol são ao todo 10 equipas da 1ª divisão e 12 da 2ª divisão. Contudo, apesar de notarmos a proliferação e massificação de modalidades desportivas praticadas a nível nacional, falta ainda, do nosso ponto de vista, uma maior organização e mais investimentos a nível infraestruturais e formativas dos agentes desportivos (em todas as áreas) de modo a criar mais e melhores condições, mas também a permitir uma maior organização e conhecimento técnico/tático para os seus praticantes o que, possivelmente, aumentará a performance das equipas nos campeonatos nacionais. Por exemplo, em todos os concelhos existem placas desportivas e polivalentes, mas já o campo relvado a situação é bem diferente, já que nem todos tem campo relvado, mais concretamente os concelhos de São Lourenço dos Órgãos e São Salvador do Mundo.

Ambas as regiões realizam campeonatos de futebol - da 1.ª e 2ª divisão, contudo, dificilmente jogam, intercambiam, com exceção, isso se calharem, nas eliminatórias e/ou na fase final do campeonato nacional. Porém, não podemos esquecer que estamos a falar de uma ilha, em termos geográfico, muito inferior, por exemplo, ao distrito de Lisboa, Portugal.

A realização dos campeonatos (todas as modalidades) tem estado a movimentar um grande número de atletas e da sociedade interessada, permitindo, assim, um benéfico e profícuo intercâmbio, entre as sociedades locais: tano nos concelhos do sul como nos do norte, mas, atenção, separadamente. Segundo informações recolhidas entre os mais experientes nessa área, antigamente essa divisão é justificada, principalmente, com a insuficiência ou inexistência de infraestruturas, principalmente no futebol, com capacidade para acolher, condignamente, a competição na região norte da ilha e o custo de deslocação. Ora, hoje, em termos de infraestruturas, do nosso ponto de vista, essa questão, não se coloca, porque, quase, todos os concelhos dispõem de campo relvado, com exceção de São Lourenço dos Órgãos e São Salvador do Mundo, o que pode ser colmatado, provisoriamente, pelos concelhos vizinhos - Santa Cruz e de Santa Catarina.

Por outro lado, realmente o custo de deslocação pode ser vista como uma entrave. Desvantagem. Mas se olharmos por outro, com a realização de um único campeonato regional da ilha de Santiago, se calhar, teríamos mais a ganhar. Vejamos:

  • movimenta semanalmente um número significativo de agentes desportivos e sociedade civil em geral, o que consequentemente pode transformar o referido campeonato no maior e mais competitivo a nível nacional;
  • maior movimentação económica da ilha. Estão a imaginar a multidão que se desloca da cidade da praia na véspera ou no dia do jogo para ver Travadores/Sporting/Académica ou outras equipas da Praia a jogar em Tarrafal/Calheta ou Assomada? Estamos a falar de uma movimentação sem precedentes, envolvendo todos os pequenos e grandes agentes económicos: residenciais/pensão/hotéis restaurantes, transporte público de passageiros (hiace/coaster), comércio informal, etc.;
  • autonomização e rentabilização dos espaços desportivos – dos estádios de futebol a nível regional. Todos pagam para assistir os jogos. Quantos mil adeptos deslocar-se-ão aos estádios para assistirem os jogos?;
  • maior conhecimento do “outro”: da realidade futebolística, da cultura, do social e paisagístico…, principalmente da região norte; mais divulgação das potencialidades e dos talentos desportivos das duas regiões;
  • patrocínio. Facilidade e disponibilidade imediata dos patrocinadores, tendo em conta que movimentará um maior número de adeptos e sociedade interessada, envolvendo população de todos os cantos da ilha; (…)

Enfim, Uma ilha. Duas Regiões. Um Campeonato. São alguns exemplos positivos da realização de um único campeonato. Efetivamente, no nosso entender, terá, seguramente, o seu custo, como tudo na vida, mas, será que o benefício não é muito superior ao custo?

Edmilson Varela

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