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Ódio aos pobres
Colunista

Ódio aos pobres

O ódio ao típico ladrão de carteiras, ao típico traficante de ganzas, ao típico ilegal ou qualquer outro típico desgraçado da suposta minoria e classe baixa. 

Com exceção de certos casos, esse sentimento, também típico, é na verdade um clássico romance de ódio aos pobres. Falo dos pobres que numa vida toda, têm trabalhos laborais que não chegam para os compensar monetariamente, de forma a viverem confortavelmente na sociedade capitalista em questão. 

Pessoas tipicamente com poucas habilitações, com trabalhos precários e fundamentalmente com poucos recursos económicos. São descendentes das várias gerações que viveram à margem do lucro das capitais. Atuais homens e mulheres que sobrevivem mais do que vivem. 

Os típicos pobres odeiam os típicos ricos por não poderem partilhar a mesma luxúria e privilégios. Os típicos ricos odeiam os típicos pobres por estes perturbarem constantemente os seus confortos. 

Desta, quero pensar sobre a opinião dos que vivem no conforto. Trabalhadores e habitantes das cidades economicamente poderosas. Os novos burgueses. 

Neste grupo, é considerável o número de pessoas que odeiam os típicos pobres e tudo farão para justificar as falhas políticas, sociais, nacionais e internacionais, usando como pretexto a persistência ousada dos tais pobres. 

Consideram os típicos pobres como não racionais, imundos, ameaças, etc. Mas, o pior é, quando se os pede para terem ideias de combate à pobreza ou desigualdade, eles descartam-se dessas responsabilidades, optando antes por suportar ideais e opções políticas de mais segmentação e repressão aos pobres marginais. Repetindo infinitamente as mesmas soluções animalescas, que até a data, nada mudaram nas sociedades. 

O local onde o sistema social não inova, será sempre o local onde habitantes com pouco ou nada, irão inovar, com ou sem o consentimento governamental. 

O jovem da periferia mais agressiva e isolada, sem perspetivas sociais de ter um estatuto de orgulho, e sem apoio financeiro de parte alguma, será sempre um possível marginal com alta probabilidade de nunca viver melhor do que como nasceu. 

Um passo em falso, é o suficiente para que o típico pobre desperdiçado pelo capitalismo, mate as mágoas usando drogas e a adrenalinas criminosas, que a sua moralidade passa a aprovar, porque a vida o traiu até na própria dignidade. 

Uma coisa é, desencorajar a criminalidade em pessoas, outra coisa é, compactuar com a antiga corrupção social que suporta a existência da segregação. 

Quem defende a existência dum Estado, é imaturo e egocêntrico ao pensar que as diferenças sociais existem unicamente para perturbar o burguês. 

O combate contra a criminalidade, não é um combate contra pessoas tipicamente pobres, mas sim, contra as portas do crime no seio dos meios pobres. O combate contra a pobreza, também não é um combate contra esses típicos pobres, mas sim, contra a maior falha social humana. 

Eu, por vezes, duma forma fútil, também temo perante pessoas alheias, incluindo pobres iguais ou diferentes de mim. Mas nunca cairei nessa vaidade absurda de odiar por medo de adaptar-me, ou por medo de reconhecer a precariedade do mundo onde vivemos todos. 

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Redação