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A indignidade selectiva
Colunista

A indignidade selectiva

“ICIEG repudia manipulação de imagens e solidariza-se com Janira Hopffer Almada”

                                     Conferência de Imprensa do ICIEG

Infelizmente, pelas reacções, foi a Janira Política e Presidente do PAICV, a principal vítima desse ataque ultrajante e indecente, causada pela manipulação e adulteração com cariz pornógrafico, da sua imagem. A Mulher, Mãe, Filha e Esposa, ficou em segundo plano.

Se não se fizer nada, entraremos numa fase em que nem a dignidade das nossas crianças estarão protegidas dessas imbecilidades, derivado do fanatismo e fundamentalismo político/partidário.

Muitos foram os ilustres que pularam apressadamente os seus dedos e corações amolecidos, candidamente, a demonstrar solidariedade; procurando proveitos políticos individuais.

São os mesmos que durante décadas (quando lhes dava jeito) alimentaram e criaram monstros nessa forma de fazer Política.

Foram coniventes, protectores (o padrinho) e até instrutores de autênticos carrasco/as do maldizer, calúnia, mentira e ofensa.

A tendência, se não houver responsabilização criminal, é piorar com a aproximação das eleições de 2021.

Sendo que a vítima desta vez, é uma figura pública e política, naturalmente a proporção e pressão mediática é maior. Provavelmente, espero Eu, alguma medida irá ser tomada.

A onda de solidariedade de individualidades e grupos para com a Janira, faz-nos acreditar que ainda existe uma réstia (embora selecta) de dignidade.

Mas, a indignação das Instituições, Grupos, Individualidades Públicas e Políticas etc, só atinge essa proporção quando a vítima é dos seus pares? Continuaremos cinicamente nessa enraivecida Selectividade?

Esse túrpido acto veio demonstrar, mais uma vez, que a impunidade que se verifica em Cabo Verde, não deixará ninguém imune. Essa cultura de violação da privacidade individual alheia não é de agora. Várias foram as Mulheres que, nos últimos tempos, viram as suas intimidades expostas publicamente, através de fotos e vídeos explícitos de cariz sexual. Inclusive, até os autores matérias muitas vezes são conhecidos, mas ninguém nunca foi acusado. Por que será?

Essa confiança em ultrajar publicamente as Mulheres em Cabo Verde, demonstra que temos um País em que a impunidade virou Cultura & Lei; porque nunca houve indignação e preocupação por parte das autoridades competentes, e pressão de qualquer Organização, em casos que envolveram “Cidadãos Comuns”.

É um lamento não ter visto a mesma indignação e ondas de solidariedade feminina, política e das elites em muitos outros casos, em que as vítimas não têm condições económicas, financeiras e jurídicas para se defenderem .

Somos um país onde os Terrenos, as Orlas Marítimas e o seu Ordenamento Selectivo, só servem para especular e enriquecer descaradamente Autarcas, Vereadores, certos Funcionários das Câmaras Municipais etc. Vimos na TCV, a Mãe, Cidadã, Filha e Mulher Jacira Rosa (e os seus filhos), vitima desse negócio sórdido, humilhada e abandonada no meio da Rua, pela Autarquia. Não tendo visto nenhuma indignação dos Grupos, das Feministas, Deputadas, Políticos, Figuras Públicas etc, prova que somos um País de Cinismo & Hipocrisia. A defesa da dignidade da Mulher (e da criança) em Cabo-verde é Selectiva?

Não vi essa mesma indignação para com a falecida Eloisa Tavares Correia (o relatório era para ser apresentado há 3 meses). Muitas das figuras que andaram publicamente a defender a Binter e o Governo, ou que se mantiveram em silêncio, estão hoje (e bem) aos berros, solidárias com a Janira. Não indignaram-se com a morte da Cidadã, Mãe, Gestante, Filha e Mulher, Eloisa Tavares Correia. Por que será ?

A banalização desses actos ignóbeis, teve a sua consagração como Cultura.cv, a partir do momento em que o Cidadão Comum não foi protegido, defendido e representado pelos organismos competentes, como rege a nossa Constituição.

Mas, penso que devemos aproveitar essa onda de indignação colectiva, e começarmos a indignar-se seriamente para com:

1) A cultura banal e institucionalizada de assédio sexual às Mulheres, em troca de oferta de cargos e favores, que se institucionalizou-se no sector público;

2) O gastar de tanto dinheiro público, em instituições de igualdade de género, mudos e selectivos nas intervenções, em particular em situações que implicam as chefias políticas no sector do Estado;

3) O silêncio ensurdecedor sobre as nossas 3 Crianças, uma Mãe de 19 anos e o seu Bebê, desaparecidas;

...

Não é com quotas e tratamentos especiais nas Leis e às individualidades, que se resolve esses problemas. É com a indignação de todos os Cidadãos, entidades sociais, políticas etc, mas em TODOS OS CASOS. É com o funcionamento eficiente, eficaz e transparente das instituições competentes do Estado. É com a consciencialização e formação cívica dos Cidadãos.

O atentado à dignidade humana e individual, deve ser intolerado por todos e intolerável PARA TODOS, independentemente da sua Cor, Religião, Orientação Sexual, Ideologia Política ou Status social.

Só assim, prosseguiremos como uma NAÇÃO.

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Redação