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O silêncio cúmplice de uma sociedade escravocrata
Colunista

O silêncio cúmplice de uma sociedade escravocrata

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Preâmbulo do Decreto de abolição da escravatura, da autoria de Visconde de Sá da Bandeira.

“ (…)

Os erros de doutrina religiosa, e o vício das medidas políticas, eram do século, não dos homens.

A Índia primeiro, depois o Brasil fez-nos deixar a África, nosso mais natural campo de trabalhos. Mas a colonização do Brasil, e a exploração de suas minas; e bem depressa o interesse de todas as outras potências que houveram o seu quinhão da América, foram os maiores inimigos da civilização da África, que nós sós, e com tanto sacrifício de vidas e fazendas havíamos começado.

O infame tráfico dos negros é certamente uma nódoa indelével na história das Nações modernas; mas não fomos nós os principais, nem os únicos, nem os piores réus. Cúmplices, que depois nos arguiram tanto, pecaram mais, e mais feiamente. Emendar pois o mal feito, impedir que mais se não faça, é dever da honra portuguesa, e é do interesse da Coroa de vossa majestade, porque os Domínios que possuímos naquela parte do Mundo são ainda os mais vastos, importantes e valiosos que nenhuma Nação Europeia possui na África Austral.

Para os avaliarmos não devemos só considerar o que actualmente são, mas o de que são susceptíveis. O estado em que se acham é devido não só ao mau Governo que tem tido a Metrópole, mas a este ter prestado a sua atenção quase exclusivamente ao Brasil.

Os naturais da África foram aprisionados e transportados além do Atlântico para tornarem rico um imenso país cujos habitantes se recusavam à civilização. Lê-se numa memória antiga, que houve tempo em que na ilha de S. Tomé existiram dezassete engenhos de açúcar, que o governo de Portugal mandou destruir para não prejudicarem a cultura da cana que naquele tempo promovia no Brasil!

(…)

Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, em 10 de Dezembro de 1836.

(Assinados)

Visconde de Sá da Bandeira.

António Manuel Lopes Vieira de Castro.

Manuel da Silva Passos.

Tomando em consideração o Relatório dos secretários de Estado das diferentes Repartições, Hei por bem Decretar o seguinte:

Artigo 1.º

Fica proibida a exportação de escravos, seja por mar ou por terra, em todos os Domínios Portugueses, sem excepção, quer sejam situados ao norte, quer ao sul do equador, desde o dia em que na Capital de cada um dos ditos Domínios for publicado o presente Decreto”.

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A obra de António Carreira, investigador cabo-verdiano, intitulada “Cabo Verde – Formação e extinção de uma sociedade escravocrata (1460-1878) ”, foi publicada em 1983, em 2ª edição, com o patrocínio da Comunidade Económica Europeia e do Instituto Cabo-Verdeano do Livro.

Livro muito interessante, importante e informativo sobre Cabo Verde, a sua História e Sociedade que ao que parece desapareceu das bancas há muito, muito tempo. É o mesmo destino dado ao Dialecto Crioulo de Baltasar Lopes da Silva. Quando se quer mostrar e divulgar a Verdade Histórica do Arquipélago e das sua gentes, esconde-se logo a seguir, censura-se bem censurado, inventando estórias e mentindo depois sobre si próprios, criando autênticas quimeras.

PAICV E MPD, Presidentes da República e Primeiros-ministros – atuais e anteriores - SÃO TODOS RESPONSÁVEIS, bem como como toda a geração subsequente ao NHÔ Balta também é responsável pelo encobrimento da Verdade e verdades e da criação de autênticas mentiras criminosas, praticadas como dolo.

Este livro aborda a escravatura em Cabo Verde, entre 1460 e 1878, identifica os proprietários de terras, os proprietários de escravos e a quantidade de pessoas escravizadas, sob o jugo do Dono. É uma obra muito importante para a sociedade, para as famílias atuais que vivem no arquipélago, de famílias que vivem na diáspora, de famílias de atuais governantes e ex-governantes, como também de dirigentes e ex-combatentes do PAIGG e do PAICV. Importante para perceber o porquê do crioulo em Cabo Verde, O PORQUÊ DA ATUAL ESTRATIFICAÇÃO E COMPOSICÇÃO SOCIAL e o porquê de terem andado a mentir e a criar quimeras sobre assunto de VITAL IMPORTÂNCIA para as gentes e gerações vindouras, uma vez que para as gerações pós NHÔ Balta - onde a minha se inclui, tristemente – pouco ou nulo interesse têm. Vale a pena reeditá-lo, mas parece que ninguém está interessado. Querem continuar a tapar o SOL COM A PENEIRA. As gerações vindouras irão responsabilizar e penalizar severamente as condutas tidas pelas pessoas, governantes e gerações que viveram no último quartel do século do XX – ainda ESTÃO VIVAS - e no primeiro do século XXI por haverem intencionalmente omitido, camuflado e distorcido a Verdade, a História e as Línguas de Cabo Verde. Cabo Verde nasce como país, na qualidade de Estado a mentir sobre si próprio e não mais parou até hoje. Chega! Acabou-se o tempo das MENTIRAS. Os meus descendentes têm o direito de saber quem são, já que a minha geração e a posterior a NHÔ Balta, à Claridade e aos claridosos estão-se positivamente borrifando para si próprios e para Cabo Verde e sua afirmação identitária. Preferem a confusão, a baralhação… AS MENTIRAS E AS QUIMERAS! Têm complexos e vergonhas dos seus passados e antepassados.

Há um silêncio cúmplice entre todos aqueles que se digladiam internamente pelos tachos e mordomias, como entre aqueles que se opõem aos governos externamente (os tais da diáspora ou das…). Na verdade, funciona como um acordo tácito estabelecido entre todos aqueles atrás referidos em não divulgar as verdades das nossas origens históricas, socioeconómicas e linguísticas.

A razão do que se passa tem a ver com o compromisso assumido após a independência de 5 de julho de mil novecentos e setenta e cinco.

Na verdade, com efeitos retroagidos a 1972, quando a ONU foi encarregada de supervisionar atos eleitorais que iriam realizar-se na Guiné-Bissau, durante aquele ano - onde logo de seguida acontece o assassinato de Amílcar Cabral em janeiro de 1973 -, de forma a poder vir a reconhecer-se internacionalmente que a Guiné-Bissau era um Estado e que Portugal não tinha mais legitimidade para governar esse novo país que veio a declarar unilateralmente a sua independência a 24 de Setembro, pela manhã cedo, por presentes 120 deputados, onde os trabalhos abriram com a leitura do texto da Proclamação do Estado da Guiné-Bissau, a cargo de Nino Vieira, presidente da ANP (Assembleia Nacional Popular). Sendo que, nos termos do ACORDO ENTRE O GOVERNO PORTUGUÊS E O PARTIDO AFRICANO DA INDEPENDÊNCIA DA GUINÉ E CABO VERDE, DE 29 DE AGOSTO DE 1974, constituía condição sine qua non “o acesso de Cabo Verde à independência, no quadro geral da descolonização dos territórios africanos sob dominação portuguesa, necessário para uma paz duradoura e uma cooperação sincera entre a República Portuguesa e a República da Guiné-Bissau”.

Aqui, ao tempo, as nossas Ilhas ainda não piavam. Eram um apêndice independentista e um instrumento de chantagem política praticada pelo PAIGC para atingir os seus fins e objetivos que redundaram-se em zero, em nada de papável e de positivo para se olhar o futuro com esperança e positividade acrescida. Bem pelo contrário! Olhamos desesperançados e com os corações carregados de negatividade! Vai de retro, ó Satanás!

Este compromisso foi assumido também em tornar Cabo Verde um Estado de cultura e línguas africanas, para assim integrar-se melhor no continente africano (complexos de inferioridade, medos, vergonhas, etc. e mais…etc.), como também pela maldosa intenção de ludibriar o povo a todo custo – esta realidade verifica-se mais no plano interno das relações políticas, sociais e económicas, muitas vezes apoiada por elementos que vivem e vão vivendo pelo dita cuja diáspora -, não importando a identidade, a definição das origens, o conhecimento de pessoas que não se conhecem, não se encontram e ainda não se encontraram histórica e culturalmente, em prol de se ir enriquecendo sorrateiramente cada bolso privado de um governante e seu acólito. Viram um negócio lucrativo nessa monstruosidade histórico-cultural e linguística que praticaram durante décadas. Diria que são os pimbas do dinheiro fácil… dos novos-ricos que nunca serão ricos, mas que vivem e querem viver permanente e vitaliciamente sob o lombo trabalhador do Povo, à conta da vida alheia daqueles que vivem quotidianamente nas e para as Ilhas de Cabo Verde, sendo estas a sua única fonte de sustento e de rendimento, quando há, quero eu dizer quando lhes toca algum cifrão e que infelizmente vão sendo explorados, abusados, dando, através deste “modus vivendi”, aparência de riqueza e de bem viver ao resto mundo, a quem não conhece de facto e realmente a realidade socioeconómica cabo-verdiana. Elegem a aparência e o espetáculo para lançar poeria no plano das relações internacionais, para assim poderem ir recebendo os apoios financeiros, subsídios e empréstimos internacionais concedidos ao País.

Não são POLÍTICOS! São chupadores, sugadores, aniquiladores do erário público, do BEM COMUM, da COISA PÚBLICA: É DE TODOS! E não para os bolsos de alguns, de suas “vidinhas” privadas dentro e fora do Arquipélago, nomeadamente em Portugal.

Do mesmo modo que no plano da educação e cultura nada se explica, nada se transmite, antes pelo contrário impera a confusão de espetáculos entre sucessivas e simultâneas passagens de modelo de vaidades governativas espaciotemporais, em que o desleixo e a negligência pelo Ensino e pela História é a nota dominante, também no plano da governação económica e financeira do país nada se diz, nada se explica, nada se justifica. Apenas executa-se, sem dar cavaco. São os milhões em empréstimos, subsídios e doações atribuídos a Cabo Verde que dificilmente o Povo vê ou sente os efeitos, mas vai-se vendo riqueza privada acumulada no país. Fazem-se acordos internacionais com potências estrangeiras e imperialistas, pondo em risco a soberania de um Estado dito independente, sem previamente consultar e auscultar o Povo que é o mais interessado nos acordos e relações entre países, como também os respetivos apoios financeiros e económicos que são concedidos.

Se antes era declarada e legal a escravatura, hoje praticam-se abusos contra a pessoa cabo-verdiana, que são condutas ilegais, mas consentidas e aprovadas tácitas e silenciosamente por uma camada social e política que vai controlando a vida socioeconómica do Arquipélago.

Se antes houve escravatura em Cabo Verde fundamentada na Lei, hoje há exploração e abusos de terceiros, de vidas alheias, descaradamente, publicamente, mas sem se assumir e reconhecer-se estes factos sociais degradantes que vão afunilando as esperanças de um Povo secular, na sua luta permanente por melhores condições materiais de vida e no respeito pela sua dignidade existencial.

Considero pois que o facto de irmos obrigando as instituições, os governos a revelarem as verdades, denunciando-os, acusando-os de omissão e de fuga à verdade fundamental, vai encaminhado, esperançosamente penso eu, o país à prática de condutas eticamente decentes, como por exemplo o deixar de mentir, de inventar quimeras, de esconder e de impedir o enriquecimento ilícito e o negócio consigo mesmo que são práticas férteis existentes pelas ilhas.

O Povo cabverdiano não precisa dos governantes que vem tendo ao longo da sua vida, como sociedade e país independente. Não precisa mesmo deles. É uma rápida e factual constatação. Os “ goves” é que precisam do Povo de como quem precisa do pão para a boca. Explicando melhor: os governantes de Cv necessitam do Povo para irem mantendo o seu elevado nível de vida interno e internacionalmente, usando, para isso, todos os artifícios jurídicos possíveis e impossíveis para perpetuar o seu “status quo”, como para justificar as suas injustificáveis condutas sociais, políticas e culturais, enganando, deste modo, os ingénuos e os pouco críticos, bem como aqueles que foram depositando confiança e credo nas suas palavras eleitoralistas, de governação sofista.

Os governantes de Cv governam para fora. Não governam para as pessoas do país. Para as pessoas de fora e para seus próprios bolsos. São os alvos preferenciais das sistemáticas governações. Agora pergunto como será possível colocar algum juízo naqueles pubertários.

Já é hábito e muito comum aos “goves” andarem a saltar de nenúfar em nenúfar externos e internacionais em busca da melhor de solução de vida para o Arquipélago. A solução está sempre noutro lado. Vem sempre de fora. Sempre uma surpresa fantástica que vem de fora. Nunca se encontra nas gentes e na terra de Cabverd! E claro a solução nunca chega. Fica-se normalmente pelos limbos. Também com aqueles sempre em passeatas “oficiais de trabalho” do país é difícil assentar, sentar, refletir para olhar dentro. E a miséria e a pobreza e falta de Educação e falta de estudo Histórico e falta de estudo sobre o Crioulo e outras mais que aqui faltam acrescentar vão permanecendo, aumentando e grassando. A corrupção, os amiguismos e as ordens vindas do exterior são realidades indesmentíveis, tornando-se como que o velho hábito dos politiqueiros e “goves” de Cv. “Cabo Verde san assim”.

Este pessoal não perdoa. Parece que não gozaram a vida na sua adolescência. Tamanha é a sofreguidão. Descobriram o filão. Não o largam. E os que ficam nas ilhas que se lixem...

SHOW e mais SHOW... Será que fará “shover” em Cv e trazer bem-estar a quem vive no arquipélago diariamente, labuta e passa dificuldades. Gostaria de vê-los a trabalhar para o Povo e deixassem de fazer espetáculos para o Mundo. Porque, quando o Mundo se aperceber que andam a viver em cima do lombo das pessoas simples e humildes cabverdianas, enganando-as sistematicamente, fragilizando na sua formação, perpetuando o CRIME contra o Crioulo, a História e a Educação, aumentando drasticamente a pobreza social e o crime organizado deixarão na certeza de cair no encanto e na simpatia internacionais. O Mundo também sentir-se-á enganado por uns quantos governantes de Cv.

Em Ceylão (Sri Lanka) há um provérbio que diz: “vinho já engulí más gentes do que mára”. A propósito da Terra dos meus antepassados, digo eu: se em Ceylão vinho engole mais gente que mar, em Cabo Verde bazofaria já engoliu mais gente do que vinho.

Na verdade, o que se tem praticado no arquipélago cabo-verdiano, pelas mãos e pelas bocas dos governantes de Cabo Verde - desde sua independência até ao presente, independentemente do descendente do PAICG que governe o país (MPD ou PAICV) - são puras aldrabices, falcatruas, mentiras, invenções, quimeras, crimes, no que respeita à sua História, ao Crioulo, à Cultura e à Educação. Um país sem História nunca será uma Nação. Será sempre um conjunto, um grupo alargado de pessoas, enfim uma sociedade composta por viventes pensantes apenas, que vão desfrutando o presente (safando-se, uns mais espertos que outros) sem sentido prospectivo, com a agravante de hipocritamente irem desprezando o passado. Ao menos assumam que não se interessam e o que pretendem é ir safando-se na vida, conforme lhes é permitido pela conjuntura internacional e a subjugação e abuso internos que vão impondo aos mais frágeis e desprotegidos do país.

Cabo Verde vive da Bazofaria levada ao seu extremo mais radical, perpetrada pelos seus governantes, desde sempre. Egos há muitos e demasiados. E vaidades inúmeras, todas vindas sempre do Poder. Andam todos na passadeira a ver quem dá mais show. Triste. Um país sem recursos económicos e finanças equilibradas será sempre um país pedinte que anda sistematicamente a convencer outros Estados a emprestarem dinheiro, para ir vivendo “à sombra da bananeira”.

Uns governantes e uns seguidores que se põem a falar da Constituição da República Ferrari ou Rolls Royce, de alto nível humanístico, tolerante e democrático, quando sabemos que as palavras que ela contém são violadas diária e sistematicamente, desde a História, ao Crioulo, à Educação, ao Ensino, à Cultura, à Ciência, no plano social, no plano económico, no plano judicial. Chama-se a isso perversidade, bem pior que bazofaria. Vive-se num plano irreal. Cabo Verde deve pensar que vai viver eternamente de peditórios, para enriquecer algumas poucas pessoas e famílias, proporcionando-lhes uma vida muito acima da média cabo-verdiana e mesmo rivalizando com a média alta europeia de vida material económica de consumo? O PAICG, enquanto vivia nas matas da Guiné-Bissau, deve ter-se habituado a receber montantes pecuniários, pedindo habitualmente a terceiros. Levou o costume para as Ilhas. Será que o cabo-verdiano comum deve achar que o Mundo lhe deve o sustento sem necessidade de trabalhar a sua própria Terra, sem criar as condições para que sejam os próprios depois a poder viver sem ter que andar sempre a pedinchar? Será assim? Não acredito! E quando houver a necessidade de pagar? Cabo Verde não tem nem terá condições para pagar. Sem estar integrado num espaço e numa Administração Política maior, sujeito a controlo e fiscalização, obrigado a prestar contas e a ser transparente na ação, não há modo de o país, salvo o devido respeito e outra melhor opinião, continuar a existir saudavelmente como comunidade política e social. Quem sofre e passa mal é sempre “o mexilhão”! A ilegal, ilícita e criminosa escravatura do século XXI “vai de vento em popa”, cintilando os seus lucros e partilhando os dividendos.

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Redação