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Não existem intocáveis
Colunista

Não existem intocáveis



Ontem, dei comigo a pensar que nesta vida não pode valer tudo.

E decidi falar. A verdade e nada senão a verdade. Por alguma coisa sou deputado e fiscalizador com o sagrado dever de corrigir o que acredite que esteja mal na nossa sociedade. Denunciei num post uma notícia veiculada pelo A SEMANA que vinha acompanhada de uma fotografia que só pode ser entendida como uma autêntica brincadeira de mau gosto. O tal jornalismo bem identificado, habitualmente sorrateiro, nojento que alguns se esforçam para qualificar de “erro inocente”…não fosse o órgão o Jornal a Semana! Foi tudo o que denunciei… por indignação, por nojo, por não concordar, por ser representante de quem me elegeu. Contudo, sabia e lá fui alertando que cairiam o carmo e a trindade…

Primeiro, o Vice-presidente Orlando Rodrigues. Logo a seguir a Presidente da AJOC, Carla Lima. Colocam-se do lado do Jornalismo asqueroso que não dignifica a AJOC, não dignifica os jornalistas, não dignifica a Nação, não dignifica os cabo-verdianos e decidem “xingar” no Deputado (deputadozinho, no dizer de Luís Carvalho) que no seu papel fiscalizador denunciou uma situação aberrante.

Não falei dos jornalistas da TCV, nem da RCV, nem da Terra Nova, nem do Expresso das Ilhas, nem da Praia FM, nem da Rádio Mindelo, nem da Rádio Morabeza, nem dos cameramen e eis que surge a AJOC (Orlando Rodrigues e Carla Lima, em abono da verdade) a alegar que a classe jornalística tinha sido atacada. Classe? Mais do que isso, surge também a líder do PAICV, “estarrecida” a tentar arregimentar as hostes, diante dos apelos desesperados de Orlando Rodrigues que “a luta era de todos”. Que miséria! Será que a Janira Hopffer Almada lá no fundo da sua alma e do seu DNA PAICVista pretende coarctar a minha liberdade de expressão?

É claro que no debate que se seguiu os internautas não perceberam a vã tentativa de defender (em nome da classe) um jornal clandestino e que tem um histórico de práticas jornalísticas rasteiras e irremediavelmente atentatórias da liberdade de imprensa. Um pasquim, um panfleto que espero não seja representativo da classe jornalística cabo-verdiana. Admira-me que Carla Lima insista em associar os jornalistas a esta imagem…

Dizia, estranhamos que a AJOC defenda um jornal clandestino cujos próprios donos mandaram encerrar.

Como pode ser confirmado pelos documentos em anexo a NOVA EDITORA, SARL, em 11 de Outubro de 2017 enviou uma nota à Direcção Geral da Comunicação Geral, informando que na Assembleia Geral Extraordinária de 15 de Julho de 2017 decidiu “suspender todas as suas actividades e despedir todos os seus trabalhadores”, solicitando, ainda, o “cancelamento temporário imediato do registo do site A SEMANA on-line, evitando cair numa situação de não cumprimento dos requisitos legalmente estabelecidos”

Numa outra nota de 23 de Outubro de 2017 dirigida a ANAC e C/c da Direcção Geral de Comunicação e da Autoridade Reguladora da Comunicação Social o Conselho de Administração da NOVA EDIÇÃO, SARL reitera que “Tendo em conta a insustentável situação financeira em que se encontra o jornal A Semana, a Nova Editora, proprietária desse jornal, decidiu suspender todas as suas actividades na área de comunicação social.”

A referida nota, ainda, nos dá conta que “o semanário A Semana, propriedade da Nova Editora, havia já sido suspenso desde Dezembro de 2016 e a totalidade dos seus trabalhadores foram despedidos a partir de fim de Junho de 2017. Actualmente, A Semana não possui portanto a seu cargo nenhum trabalhador ou jornalista em função.” e solicita que “seja definitivamente encerrado o domínio em que funciona o jornal A Semana Online: www.asemana.publ.cv”

Mais, é o próprio conselho de administração da Nova Editora que num email de 12 de Outubro dirigido à Directora-geral da Comunicação Social admite que “A situação actual é por isso irregular, pois não existe nenhum director ou corpo redatorial legalmente nomeado para assumir a edição on-line.“

Estas transcrições mostram-nos que os acionistas (mais tarde discutiremos quem são) não quiseram viabilizar financeiramente o Jornal A SEMANA que tinha sido criada para veicular uma determinada linha editorial de vertente política próxima do PAICV. Contudo, a AJOC, chegou a defender que o Estado devia viabilizar A SEMANA com o dinheiro dos contribuintes.

A AJOC podia ao menos ser transparente e dizer aos cabo-verdianos quem são os acionistas do jornal a Semana e se estas pessoas estão também elas em dificuldades financeiras ao ponto de terem recusado colocar 1 tostão no projecto político A SEMANA.

A AJOC defende estas irregularidades. Defende um jornal clandestino e coloca-se do lado do jornalismo rasca e dos jornalistas políticos, isto é, está do lado da má moeda e tenta fazer crer que ataquei todas as moedas, inclusive as boas. Não. Confio nas boas moedas e, como disse Cavaco Silva, espero que venham a “expulsar” as más.

Da AJOC não espero nada de bom, pois tendo os seus dirigentes justificado a situação irregular com a falta de recursos e achando que estar na ilegalidade é normal porque outros também estão mostra-nos com que tipo de dirigentes estamos a lidar e em que mãos se encontra a AJOC.

Não há aqui amargo de boca, a menos que se esteja perante o ego e a arrogância. A democracia foi criada para que ninguém fique calado ou seja intocável. Nem o Presidente da República, nem o Primeiro-Ministro, nem os Ministros, nem os deputados, nem as classes profissionais, nem os funcionários, nem os jornalistas, nem os juízes, nem os ricos, nem os pobres… Assim, meus caros, vão ter de me aguentar, pois sou Deputado e meus questionamentos nada têm a ver com o MpD que tem a sua estrutura própria de comunicação, mas tudo a ver com o papel fiscalizador que exercerei com zelo porque para este Deputado não existem intocáveis, nem tabus. Serei sempre um homem digno, coerente e com coragem suficiente para exprimir as suas posições. E, claro, sempre com respeito pelo pluralismo de opiniões, sejam elas provenientes de políticos, militantes partidários, jornalistas, cidadãos, homens, mulheres, gays, héteros ou ambientalistas.

Viva o pluralismo! Viva a liberdade!

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SOBRE O AUTOR

Emanuel Barbosa