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Nha Mana
Elas

Nha Mana

"Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam", Martin Luther King

CAPÍTULO I - MANA SINA

Eram quatro da manhã e Alcina se levanta para pôr café no lume.

Ela própria pilava o milho, fazia o cuscuz, varria a casa e apanhava a água. Às 6h00 tomava o Bedford de Simpilis rumo a Santiago. Era tempo de mandioca. Barse de Manel tinha dado muita mandioca e lá se podia ainda comprar batata e banana a bom preço. Fazia um negócio só. Rabidante muito esperta, buscava sua vida no vai e vem entre o interior de Santiago: comprava aqui, vendia acolá. As mulheres gostavam dela porque se sentiam seguras. E os homens a respeitavam porque falava pouco e fazia muito.

Alcina, mais conhecida por Sina, era mulher na força da idade: mais força do que idade, diziam.

Ninguém sabia direito por que ela nunca tinha se casado. Uns diziam que ela espantava os homens com a sua grandura. Outros, que ela espantava os homens com a sua voz grossa. Outros ainda diziam outras coisas que ninguém ouvia ou sabia repetir.

Sina nunca ligou para as bocas de mundo, nem dava confiança a ninguém. Não se metia na vida dos outros, não perdia tempo com fla-fla. Quando lhe perguntam: “Sina, e por que não te casas, bonita e bem-disposta, trabalhadeira e educada como tu és?”

- Não preciso de homem. Tenho dois braços, duas pernas, dois olhos na cara.

Não havia como meter conversa com ela sobre assuntos de homem. Mas os mais velhos se preocupavam: “Toda mulher tem que parir. Se não lhe for dado casamento, chega a uma certa idade, tem que parir. Filho é que é socorro da nossa velhice. Alguém sem filho não é nada neste mundo. Mãe é manta de filho na sua flor de idade. E filho é limpeza de seu grande na velhice…”

Alcina respondia aos mais velhos: “É certo sim”. Mas nada fazia; e respondia aos mais novos: “Me deixem em paz. Tenho dois braços, duas pernas, dois olhos na cara. Não preciso de homem. Arranjem vocês”.

E isso quando insistiam muito. Porque, na maior parte das vezes, ela respondia igualzinho a este pedaço de pau aqui. Ficava yam pedra: “Sina isto e aquilo”

Resposta: yam pedra.

- Alcina matutava muito na vida, diziam as avós.

- Sina fazia, sim, eram muitas contas de cabeça _ era o que as mulheres achavam.

 Na sua tagarelice, durante as viagens, ela ficava sempre calada…Mas na hora de negociar, e quando os proprietários vinham com muita conversa para fazer cálculos de máquina e pesar na balança decimal, Alcina passava para diante e dizia de cor: Goia, o teu dá x, Viki o teu dá y, Fina, deixa que eu te ajudo. Põe este balaio no carro e aguenta a gente lá dentro. Deixa que resolvo aqui e depois tu me dás o dinheiro. À hora em que os homens terminam de pesar e de bater os dedos na máquina de calcular, Alcina já tinha contado o dinheiro de todas e estava pronta para dar o bote.

Estendia a mão e os homens pegavam o dinheiro. Eles olhavam para a cara dela e a olhavam ainda de cima a baixo… e as mulheres, agora yam pedra, deixavam só a Sina falar.

- Toma, este é o preço justo.

- Deixa que eu te ajudo a pôr o balaio na cabeça. Passa aqui na quarta-feira que vou te guardar tomate marela, assim assado… _ as mulheres com gana que lhes fizessem tais propostas, mas os homens só ofereciam coisas à Sina. E Sina sempre a repetir:

- Toma, este é o preço justo.

Então Sina rametia no balaio grande e nos dois sacos. Não precisava que ninguém a ajudasse.

- Olha, Sina, então vem depois de amanhã. Vai sair aquele mel puro de cana, para levares para As Cinzas.

- Toma, tenho pressa. Senão, o carro me larga aqui. E dava-lhes as costas e segurava no último saco. Andava apressada e tinha lanhos de homem.

Os homens morriam de raiva. As mulheres engoliam o riso no fundo da garganta. Os homens ainda disfarçavam e iam atrás dela até o carro e ficavam na carroçaria a olhar para os sacos e balaios como quem queria dizer algo.

As mulheres, ora invejavam Sina, ora achavam que ela era muito burra de não aceitar as ofertas. Quase sempre pensavam que Sina trambicava os homens nas contas. Mas quando chegavam à casa e pesavam os legumes quilo por quilo, Sina não tinha roubado nada. Era o preço justo. Sina fazia muitas contas de cabeça, logo devera.

Que seria das rabidantes sem Sina?

Por isso a chamavam carinhosamente de Nha Mana.

CAPÍTULO II - BIANOR

Matxikadu Bia era rafega de homem, mas malcriado como ele não havia.

Detestava o seu nome de batismo, colocado por um tio marinheiro que devia ter manias de grandeza. Para ele, Bianor era nome de mulher. Tanto que, de menino, os seus colegas o chamavam de Bia. Aquilo deu-lhe raiva, de ser tratado como mulherinha, ainda mais que ele era franzino. Decidiu, então, que se chamava Matxikadu e que todos deviam temê-lo. E fez por isso, já que tamanho não é documento: por onde passasse, ou cortava alguém e impunha respeito ou todo o mundo se calava.

Com sua koina de um lado e maxim do outro, Matxi, como o chamavam, era o mais valente daqueles barses. Gente grande o temia; viviam dando bênção, sem ele pedir:

- Deus te livre de perigo, meu filho! Diziam, quando passavam perto de Cansa Galinha, lugar dos grandes dele, desde há muitas gerações.

Mana Bia, Mãe de Matxi, era mulher fracota que tinha perdido muitos filhos. Matxi veio depois de seis barrigas que não pegavam e, quando um nascia, morria logo nas primeiras semanas. Filho pedido, ele adoeceu muito na infância. Seu primo Zaqueu era muito pobre e ficava o dia inteiro brincando com ele no poial da casa de Mana Bia, rua cheia de animais de leite que alimentavam toda a vizinhança.

Mana Bia fazia muito sentido na alimentação de seu Bianor. Não lhe faltava com bom guisado, muita manteiga de terra, muito leite e toda a casta de bianda de milho. Mas, nada. Bianor Matxikadu continuava que nem gato tisgado.

Aos 15 anos, todos os rapazes da sua idade, muitos filhos de coitado, já eram rapazotes de toda a razão. Mana Bia sabia que muitas mães passavam dias inteiros sem pôr panela no lume. Meninos viviam comendo fatiota por aí. Ela própria já ajudou muitos filhos e muitas mães a quebrarem jejum: até que o tempo cansado acabou, e Deus olhou para todos os filhos de parida desta terra.

Carestia passou, os meninos ficaram homens, todos de corpo limpo. Mas Matxi, com 15 anos, ainda era miudinho. Tinha o corpo sempre fraco. Zaqueu seu primo tinha 13 e era mais taludo, muito mais homem que ele. Os meninos provocavam-no dizendo “Matxi krotxa, Zaqueu da.”

Já maior de idade, continuava a gostar de brigas, mas estava cansado de ir parar à Polícia. Passou a ser então um bicho do mato e se isolou na sua horta de Cancelo, longe da vizinhança, onde só via as rabidantes da zona, uma vez por semana, quando iam comprar produtos frescos. Não tinha saudades de ninguém; ninguém tinha saudades dele. Pelo contrário, todos respiraram de alívio, quando ele passou a vir cada vez menos a Calheta: Matxi longe é paz na certa.

Só Mana Bia, mulher doce e dada com todos, sentia falta do filho. Muito sofria com a mal-querença dos patrícios e, bem lá no fundo, ela sabia que Bianor não era uma pessoa do mal.

CAPÍTULO III

"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade", Artigo 1.º da Declaração dos Direitos Humanos

Santiago de Cabo Verde, 1985

Bianor Matxikadu de Bia matutava em como dar uma lição na Sina.

Mulher que não fala é kampresta. Mulher que não se deixa tocar e olha um homem nos olhos não é por-si. E Sina era daquelas mulheres armadas em bom que parecem desafiar os homens com suas frases curtas e silêncios compridos. E ele, Matxikadu Bia, não se deixava amedrontar nem por homens que fará mulher.

Tinha que dar uma lição nela. Sina tinha que o respeitar. Como todos os homens, como todos os rapazes e como todos os grandes daquela ribeira, Sina tinha que o temer. Enrolava na cama todas as noites. Um dia decidiu que já era a hora.

……………………………………………………………

Madrugada dentro do nepu-nepu, Fonte Bedja

O silêncio fazia ouvir as ondas de Ria Benexa. O mar devia estar bravo. Alcina descia à fonte para apanhar água. Fonte Bedja (Fonte Velha) ficava entre a horta de Nhu Mulato, a descida da igreja e a subida de Veneza. Muitos diziam aquele lugar era bidjaku, mas Sina nunca foi de superstição. De lá apanhava água de servir, que dava para lavar pratos, regar plantas, e até os animais bebiam. Estava era um pouco salobra para pôr no pote.

Era o poço mais próximo, aonde ela sempre ia de madrugada. E, como diziam os rabelados, toda a fonte tem água limpa, pois água é de Deus e Deus é limpo. Sujas são as criaturas de coração ruim.

Então, sim. Contava preparar-se cedo, para viajar no primeiro carro e chegar a Cancelo. Hoje tinham de ir à horta de Matxikadu e queria fazer tudo direito. Sabia que ele era runho (ruim) e ela não queria complicações. Com ela é pão-pão queijo-queijo. Mas as amigas temiam o bazalisco.

Aproveitou para lavar os pés e esfregar os calcanhares, antes de pôr a lata na cabeça. Abaixou-se e alguém a empurrou com muita força. Tentou se levantar, ainda sem entender nada, e viu Matxi, com um maxim na mão direita.

Assustou-se.

- Abô? (Tu aqui?)

- É hoje que eu te mostro. _ Alcina recebeu um coice na boca de estômago. Ela caiu de novo

Matxi sabia que a melhor maneira de domar uma mulher e fazer com que ela respeite um homem para o resto da vida é servir-se dela à bruta. Não mediu esforços: viajou de Cancelo até ali, na véspera da venda, num dia em que ninguém o esperava. Ficou goitado no meio do bananal até aquela hora, no sereno. Mas tinha valido a pena: ela ali estava dobrada, assustada, com medo.

Só Matxi via medo nos olhos de Sina. Mas kuza sertu é sabi fla, não era medo; eram só dores: dores no estômago. Dores na alma.

Ele colocou o maxim no pescoço de Sina:

- Se levantares, corto-te.

E desceu o fecho com a outra mão. Abriu a braguilha. Ia mesmo abusar dela.

Parece que Alcina terá dado um pontapé nos colhões do Matxi. Parece que a dor fez Matxikadu soltar o maxim, porque, depois, o polícia encontrou o maxim a metros de distância, na pia. Ninguém soube contar como foi que alguém descobriu o acontecido e chamaram a polícia. Mas parece que a luta demorou uma meia hora.

Muitos dizem que Matxi não conseguiu. O próprio Matxi teria dito à Polícia que não tinha conseguido porque não quis. Mas a Polícia não estava tão certa assim e até soltou Matxi, poucos dias depois, porque ele estava bem pisado, com pancadas por todo o lado. Ficaram com dó dele.

Bianor, Matxikadu de Bia, foi transportado diretamente para o Tarrafal, onde havia médico, para melhor cuidar dele. Ali ficou internado, por vários dias, que ninguém soube quantos.

Sempre que alguém ia à Vila, perguntava à Polícia ou ao Hospital por Bianor. As autoridades diziam:

- Alcina está bem. Não aconteceu nada com ela. Não teve nenhum arranhão. Vamos rezar pela saúde do Matxi, que está muito mal.

Mana Bia sofreu muito com as dores do filho. Ele levou muitos pontos e tinha hematomas espalhados pelo corpo. Estava irreconhecível. Mas isso são as boquinhas a dizerem, porque ninguém das redondezas chegou a fazer seus olhos quatro com o Matxi.

Uma mãe de coração partido, quando decide, toma as providências pelo filho. Sabe-se que Bianor viajou para Lisboa, ou Paris, ou Merca, no dia em que teve alta.

Sabe-se que Alcina demorou uma lua sem ser vista. Ficou trancada na sua casa, sem trabalhar e sem falar com ninguém. Mas todos garantiam que ela estava bem, sem nenhum arranhão.

Passaram-se meses. Sina passou a fazer só vida noturna.

Um dia apareceu de dia, no dia das Cinzas, toda vestida de homem.

- Olha Sina vestida de Carnaval! Vamos botá-la na água, vamos.

- Não estou para brincadeiras _ ela disse. E afastou-se.

Esbarrou numa menininha que lhe pediu a bênção. Ela respondeu:

_ Deus libra-u di sina. (Deus te livre de sina/ perigo)

CAPÍTULO IV

Praia de Santa Maria, Ilha do Sal, 1992.

É o meu dia livre. Chego à praia de mar e compro um coco de água numa mulher grávida. O preço era para turistas: um absurdo. Mas a coitada parecia muito cansada. Fiquei com pena. Comprei o coco à mesma, e meti conversa.

- Nha está bonita![i] (Saudei-a como manda a tradição). _ A Sra. mora aqui perto? _ Perguntei, eu e a minha mania de badiu de fora que gosta de falar com desconhecidos.

Ela abriu o seu sorriso grande de grávida:

- Moro aqui perto. Meu marido é que é o condutor de Taxi.

- Ok…Então sim.

Ela quis pôr o balaio no chão. Eu ajudei e pensei de novo como badia que sou: “konxi é um dia!” . Ela sentou-se confortavelmente à sombra. E disse, tranquila:

- Sou mulher de Sina, que era rabidante lá de Praia. Nunca ouviu falar?

- De Praia? Praia, Praia mesmo, ou de Santiago? (Mania de gente das ilhas de chamar toda a nossa ilha de Santiago de “Praia”! - pensei comigo)

- Sim, ela é badia. Era vendedeira de frutas e legumes, de fora de Praia: era rabidante.

- Deve ser Sina, que era de Calheta. Sim, acho que conheço. Mas a senhora é parente dela?

- Sim, sou mulher dela.

- …!

- Conhece Mana Sina? _ Olhou-me nos olhos.

E a mulher abriu de novo seu sorriso crã no rosto; e continuou abanando seus calores de grávida. Ainda insistiu na pergunta, duas, três vezes.

Eu fiquei yam pedra. Olhei para sua barriga, benza-a Deus, como uma bakam. Agora quem suava era eu…

E ela bruscamente reagiu: amarrou o pano à cintura e envolveu todo o barrigão, na defensiva. Proteção de mãe, está claro.

Tive de olhar para o chão. E depois para o mar. E então para nada.

Yam pedra, eu e ela.

Sim. Já tinha ouvido falar de Sina: aquela que, entre outras coisas, era rabidante.

Quem souber mais que conte melhor.

"Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. (…)", Artigo 2.º da Declaração dos Direitos Humanos)

GLOSSÁRIO E NOTAS

GLOSSÁRIO

CONTO 2 NHA MANA

Barse – Propriedade de regadio

Sina  - Destino/perigo

Yam pedra – totalmente em silêncio/calado

Tomate marela – tomate maduro de textura boa e cor avermelhada

Cinzas /festa de – ver nota

Matxikadu – Por vezes é sinónimo de malcriado e sem respeito/que não se importa com/não tem medo de nada

Rafega – Ameaça de chuva ou chuva fraquinha e rápida; Rafega de homem – homem franzino (adjetivação depreciativa)

Koina – Facão utilizado em barse,; de lâmina arredondada e cabo reto, o formato da koina faz lembrar um ponto de interrogação.

Gente grande – Nossos antepassados ou ascendentes vivos; pode-se utilizar, genericamente, como sinónimo respeitoso da palavra “velhos”.

Fazer sentido em – Prestar muita atenção a/ cuidar bem de

Fatiota – comida leve e sem sustento (doces e fast food)

Gato tisgado – gato muito doente, magro e mal cuidado

Matxi krotxa, Zaqueu da – Krotxa é um verbo que significa que algum fruto d’azágua, especialmente o milho, não se desenvolveu o suficiente (em tamanho, qualidade ou quantidade); o contrário é “da”, quando a colheita é farta. A frase significa que Zaqueu é um homem forte e taludo, enquanto Matxi é projeto de homem.

Kampresta – Que não presta/ de má fama

Por-si – Neste caso significa (não é normal, tem algo estranho)

Bidjaku – Assombrado, de mau agoiro

“konxi é um dia!” – Tradução literal: “conhecer pode ser em qualquer dia ou momento/só leva um dia/não precisa de dia marcado; significa que o fato de não conhecermos alguém não nos deve impedir de estabelecer relações sociais com ele (a): (forma de quebrar o gelo entre duas pessoas: cumprimentar, conversar, ser solidário)

 

NOTAS (I)

CALHETA DE SÃO MIGUEL - CABO VERDE: NOTAS HISTÓRICAS E CULTURAIS

CINZAS – FESTA

Os fiéis católicos são convidados a jejuarem e a fazerem abstinência à carne no primeiro dia da Quaresma, em sinal de sacrifício. Por isso a expressão Festa de Cinzas é um paradoxo que, apesar da força cultural que adquiriu especialmente na ilha de Santiago, trouxe um viés profano ao dia das Cinzas. São vários os pratos típicos das Cinzas. Deles se destaca o cuscuz com mel, deixa que o povo de S. Miguel utiliza para, após o farto almoço de Cinzas, refastelar-se na areia, numa festa condenada pelos religiosos: uma mistura de baile, brincadeiras diversas e extensão do Carnaval. As pessoas, fantasiadas ou não, visitam as praias de S. Miguel, para passarem esse dia (para “comerem” e “brincarem” as Cinzas), apesar de ser considerado um dia sagrado e de recolhimento para os cristãos.

VIOLÊNCIA E DADOS

As pesquisas realizadas em Cabo Verde no limiar do ano2000 apontam como causa dos atos de violência dos homens contra as mulheres a embriaguez e os ciúmes. No caso da violência das mulheres contra os homens seria uma resposta a sucessivas agressões, ou situações como a prática da poligamia ou o abandono do lar por parte do companheiro. Subjacente às causas imediatas acima apontadas, são invocadas razões de ordem histórico-cultural, “O direito a bater é uma prática socialmente aceite no país, tanto pelo homem como pela mulher e geralmente é utilizada como um recurso educativo e pedagógico, portanto legitimadora do poder do adulto”. (Dados do ICF, Praia: 1999)

 

[i] “A Senhora está bonita!” é a saudação tradicional que se faz às grávidas e mostra que se notou a gestação, ao mesmo tempo que se encoraja a gestante. É um ato protocolar que pretende suavizar o grande sacrifício que se considera que as grávidas têm de gerar um filho e se submeter às mudanças e sofrimento que seu corpo e sua mente exigem, desde a concepção até o parto.

Na cultura tradicional de Santiago, elogios explícitos à fisionomia das pessoas são muito comedidos. Mas destaca-se o fato de ser o único momento em que um cavalheiro pode se dirigir a uma senhora, elogiando-a em público, mesmo que não tenha com ela nenhum laço familiar próximo.

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Redação