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Suspeições sobre Paulo Rocha na morte de Zezito Dente D’Oro. Será que Governo de Cabo Verde tem um criminoso no seu seio?
Sociedade

Suspeições sobre Paulo Rocha na morte de Zezito Dente D’Oro. Será que Governo de Cabo Verde tem um criminoso no seu seio?

Manuel Alves e Elias Silva são duas altas patentes da Polícia Nacional, personalidades conhecidas em todo o país e na diáspora. Nos últimos dias, os dois levantaram, em textos publicados nas redes sociais e em jornais, suspeitas de envolvimento de Paulo Rocha, ministro da Administração Interna do governo do MpD e cabeça de lista desse partido pelo círculo eleitoral de São Vicente, o terceiro maior do arquipélago, na morte de Zezito Dente D’Oro ocorrida em 2014, na cidade da Praia. Até este momento, nenhuma entidade do poder judicial se pronunciou sobre essas suspeições, nem mesmo o chefe do Governo, num silêncio que incomoda e recomenda à interpelação: será que Governo de Cabo Verde tem um criminoso no seu seio?

A maior suspeição a respeito do envolvimento do então diretor dos Serviços de Informação da República e hoje ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, “na execução sumária do cidadão José Lopes Cabral, conhecido por “Zezito Dente D’Oro”, ocorrida na localidade de Cidadela, em outubro de 2014, considerando as suas responsabilidades, decorrentes das funções que exercia” vem do Intendente da PN, Manuel Alves.

Segundo esse oficial superiror da PN na reforma, “há vozes críticas que dizem que houve excesso do uso da coerção que causou a morte desse cidadão e que as informações utilizadas foram falsas, forjadas para ilibar os implicados, incluindo o cidadão Paulo Rocha, pelas funções que exercia”, sugerindo que “esse caso carece de um esclarecimento cabal e justo, para que algo semelhante não volte a repetir-se”.

Alves lançou essas suspeições no dia 24 de março, e passados quase 3 semanas, as autoridades judiciais e governamentais continuam surdos e mudos, como se nada tivesse acontecido.

O antigo oficial superior da PN, chamou a terreiro a Constituição da República para lembrar que Cabo Verde é um Estado de Direito Democrático, onde em “nenhum caso é permitida a execução sumária de um cidadão, praticado por forças ou serviços de segurança pública, sem que haja o esclarecimento cabal das circunstâncias em que tudo ocorreu”, adiantando que “se o aniquilamento desse cidadão ocorreu em legítima defesa, isso tem de ficar claro, evitando especulações, num processo que deve ser justo e conclusivo”.

“Eu clamo a Ordem dos Advogados de Cabo Verde, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos, a Procuradoria Geral da República, a Comunicação Social Livre e todas as entidades formais e informações de controle externo das polícias, para refletirem sobre esse caso e os Direitos Humanos”, escreveu Manuel Alves, em jeito de conclusão.

Este assunto seria retomado pelo também oficial superior da PN na reforma, Elias Silva, em artigo publicado neste jornal, no dia 10 de abril, quando lançou a seguinte questão: “nesta nossa terra amada acontecem coisas surreais! Como é que uma pessoa que tenha sido acusada tanto de forma velada como explícita de ter cometido um crime de sangue é convidada a ser ministro e aceita, o seu nome é proposto como deputado e cabeça de lista sem antes se apresentar perante a justiça para tentar lavar a sua honra?”

Até este momento, o país não ouviu absolutamente nada da boca das autoridades judiciais e governamentais a respeito dos pronunciamentos dessas duas importantes figuras da segurança e ordem pública de Cabo Verde.

Muitas personalidades do mundo académico e jurídico contactadas por Santiago Magazine dizem entender que essas suspeições públicas revelam matéria suficiente para a abertura de um processo de investigação. Defendem que o Ministério Público devia, a esta altura, ter-se pronunciado sobre o assunto, quanto mais não seja, para confortar os cidadãos a respeito de um processo que, pela sua gravidade, acaba mexendo com a tranquilidade emocional de toda a nação.

Para um jurista que aceitou falar com Santiago Magazine, sob anonimato, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, devia ser o primeiro a falar ao país, esclarecendo as fortes suspeições que pendem sobre a cabeça do seu até aqui ministro da Administração Interna. “Ulisses Correia e Silva não pode remeter-se ao silêncio em relação a este assunto”, adverte o jurista, acrescentando que, como muito bem escreveu Elias Silva “o caráter de quem convida alguém com esse currículo já diz tudo”. Ou seja, ou Ulisses Correia e Silva vem a terreiro explicar aos cabo-verdianos esse assunto, ou fica indiciado como o seu ministro e cabeça lista do MpD para São Vicente.

Recorde-se que José Lopes Cabral, Zezito Denti d’Oru, foi baleado por elementos da polícia na noite de 15 de outubro de 2014, no bairro de Cidadela, na cidade da Praia, alegadamente por ter resistido à prisão, sob suspeita de estar envolvido na preparação de homicídios a funcionários da PJ e do Ministério Público, relacionados com a morte da mãe da Coordenadora de Investigação Criminal da Polícia Judiciária, assassinada a tiros na rua onde morava, em Calabaceira, a 17 de setembro de 2014.

Nessa altura, Zezito tinha 29 anos e teria sido deportado de Portugal. No dia em que foi morto pela polícia encontrava-se acompanhado de um outro jovem, de nome Ady, que, segundo a Polícia Judiciária, vinha ao volante da viatura quando os dois foram abordados.

Na ocasião, a Polícia Judiciária emitiu um comunicado, onde dizia que “ao contrário do condutor da viatura que não ofereceu qualquer resistência, Zezito optou por resistir às ordens que lhe foram transmitidas, recorrendo à arma que tinha em sua posse, de calibre 9 mm, o que desencadeou um tiroteio, no qual foi ferido um Inspector da Polícia Judiciária, resultando ainda a morte daquele”.

De então para cá, esse processo entrou em esquecimento, até que Manuel Alves o trouxe de novo para o debate público, lançando fortes suspeições sobre um membro do Governo e que tutela a Polícia Nacional - o inspecto da Polícia Judiciária, Paulo Rocha.

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