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Faleceu o advogado Vieira Lopes, o homem que denunciou a "máfia de terrenos na Praia" (Em actualização)
Sociedade

Faleceu o advogado Vieira Lopes, o homem que denunciou a "máfia de terrenos na Praia" (Em actualização)

Faleceu esta tarde, por volta das 18 horas , 3 de abril, no Hospital Agostinho Neto, o advogado Felisberto Vieira Lopes, bastante conhecido por ter denunciado a suposta "máfia de terrenos na Praia", envolvendo figuras no meio político e empresarial.

De acordo com informações a que Santiago Magazine teve acesso, Vieira Lopes, 83 anos, esteve internado no hospital desde a semana passada. Saiu esta quarta-feira, 1 de abril, mas como o seu estado de saúde piorou, voltou esta sexta-feira para continuar o tratamento tendo falecido esta tarde.

As nossas fontes dizem que foram os serviços dos bombeiros municipais a levar Vieira Lopes ao HAN, na semana passada, depois de ter estado inanimado por dois dias dentro da casa, onde residia sozinho.

O seu silêncio fez com que fosse accionado os bombeiros municipais que foram arrebentar a porta da sua casa no Plateau, onde foi encontrado caido no chão.

Na quarta-feira, 1 de abril, Vieira Lopes, nascido em Santa Catarina em 1937, saiu do hospital e embora debilitado falava normalmente. Entretanto, o seu estado clínico piorou, tendo regressado ao hospital hoje, sexta-feira, onde veio a falecer por voltas das 18 horas.

Vieira Lopes é um dos mais antigos advogados caob-verdianos vivos. Esteve nas últimas duas décadas na boca do mundo, pela sua luta contra a "Máfia dos Terrenos da Praia". Trata-se um longo processo judicial que o próprio Vieira Lopes chama de "Burla dos Terrenos" no município da Praia, cuja acusação foi deduzida em março último. Foram 15 arguidos, com destaque para figuras públicas como Arnaldo Silva, Rafael Fernandes, Alfredo Carvalho e a empresa deste, Tecnicil, todos acusados de burla qualificada, lavagem de capital, associação criminosa, falsificação de documentos e corrupção activa. O MP, que pediu julgamento perante Tribunal Colectivo, sugere inclusive a prisão preventiva de Arnaldo Silva, TIR para os demais réus e confiscação dos seus bens, porque provados em como lesaram aos legítimos donos dos terrenos e ao Estado de Cabo Verde mais de 2 milhões de contos.

Foi o seu apogeu, após décadas de confronto, acusações públicas e queixas-crime (com ou sem razão) contra figuras públicas, da elite política e empresarial, que resultaram por exemplo na detenção de Arnaldo Silva, antigo governante e ex-bastonário da Ordem dos Advogados, o mais longe que esse processo já foi.  

Nesse célebre processo, Vieira Lopes era defensor dos herdeiros da família Tavares Homem contra os herdeiros de Fernando Serra e Sousa, que brigam grandes extensões de terreno na grande Praia.

Licenciado em Direito, em Lisboa, Portugal, Felisberto Vieira Lopes teve outras valências além da sua área do formação. Segundo blog barrosbrito.com (que costuma fazer a árvore genealógica de várias famílias em Cabo Verde), Vieira Lopes, como poeta usou o pseudónimo de Kauberdiano Dambará.

Colaborou no Boletim dos alunos do Liceu Gil Eanes e no Novo Jornal de Cabo Verde e, depois da independência de Cabo Verde, escreveu na revista Raízes, e outras tantas. Aparece também em Literatura africana de expressão portuguesa (vol. l, poesia), Argel, Argélia, 1967; Vuur en ritme, Amesterdão, Holanda, 1969; When bullets begin to flower, Nairobi, Quénia, 1972; Who's is who in African Literature, Tubingen, R.F.A., 1972; Antologia temática da poesia africana l - na noite grávida de punhais, Lisboa, 1976; Antologia temática da poesia africana 2 - o canto armado, Lisboa, 1979; Contravento - Antologia bilingue de poesia cabo-verdiana, Taunton, Massachusetts. E.U.A., 1982. Publicou ainda Nóti, edição do PAIGC, Paris, França, 1964.

Tem obra literária publicada em várias antologias, nomeadamente em Literatura africana de expressão portuguesa, (vol. l, poesia) Argel (1967); na Antologia temática da poesia africana l e 2, Lisboa (1976, 1979) e em Contravento - Antologia bilingue de poesia cabo-verdiana, Taunton, Massachusetts (1982).

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Redação