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Verdades x Opiniões
Ponto de Vista

Verdades x Opiniões

A objetividade deu lugar a uma subjetividade fortemente carregada de ego como “a minha verdade” que paulatinamente se torna mais inflado. É falso afirmar que o mar para mim é gasoso e para outro é sólido, se tratando de um meio sujeito, isto é, um mar nas mesmas condições. Há coisas que não se tratam de opiniões; não podem ser consideradas como verdades subjetivamente adquiridas, ou seja, “as nossas verdades”. E, contra factos não há argumentos. A verdade é uma e única, não pode haver várias.

Com bastante convicção se afirma que a verdade é relativa. O mundo moderno se quer tornar completamente democratizada – no sentido mais vulgar das consequências – e o resultado dessa ideologia abarca a opinião da massa, do populacho que apenas se interessa por questões menos corriqueiros quando são polemizadas por obra de invisíveis forças bastante interessadas na marionetização do grande famigerado proletariado, acomodado ao seu “sub-humanismo” que se abstém de alçar voos que o dito louco da praça, de semelhante forma ao iluminado da caverna, tentara amestrar aos moradores do vale da montanha.

Se tal condição à essa virtude se arroga, a própria existência o poderia ser. O questionamento sobre a existência ou não de um supremo ser com as mais diferenciadas conotações, chegando até a ser considerado energia ou a própria organização cósmica, poder-se-ia colocar em causa. Todavia, e já citava o grande filósofo Karl Popper, “uma teoria apenas é científica se ela poder ser refutada”; e como tal nesse caso não o é possível, pelo fato de não se poder apreciar a veracidade ou a falsidade dessa constatação por se tratar de um posicionamento voltado para o metafísico, chega-se num ponto cinzento do encontro entre “verdades e inverdades”. O esforço para se chegar à suposta resolução desse questionamento será o interior, isto é, a própria fé; mas não, essencialmente, a religiosa, mas uma crença interna, a qual também poderemos chamar de pulsão, vontade ou potência. O que permitiu ao pequeno David enfrentar e derrotar o gigante Golias não foi, de forma nenhuma a sua força exterior, mas sim, a sua coragem e crença no seu deus. Essa é a verdadeira força presenteada pelo Deus Judaico-cristão; não somente um poder de por intermédio de si os crentes poderem realizar atos miraculosos, mas a própria emancipação da sua reprimida capacidade de o impossível tornar concretizável.

A finalidade principal do homem não é ser feliz ou ser capaz de desvendar a verdade, mas a sua eterna e incessante busca. Essa deverá ser a sua vontade; aquilo que lhe irá dar forças para continuar a frenética e sangrenta guerra de difíceis batalhas contra aquilo que o sustenta e que, na sua ausência, o torna num mártir nesse campo. Mas ele possui a escolha de, tal como Aquiles, poder outorgar um legado que, contrariamente ao seu corpo, serão imperecíveis.

Uma multiplicidade de “verdades subjetivas” que confrontam padrões de pensamento e comportamento que delinearam a sociedade por milénios. A objetividade deu lugar a uma subjetividade fortemente carregada de ego como “a minha verdade” que paulatinamente se torna mais inflado. É falso afirmar que o mar para mim é gasoso e para outro é sólido, se tratando de um meio sujeito, isto é, um mar nas mesmas condições. Há coisas que não se tratam de opiniões; não podem ser consideradas como verdades subjetivamente adquiridas, ou seja, “as nossas verdades”. E, contra factos não há argumentos. A verdade é uma e única, não pode haver várias. E quem diz que não há verdades absolutas? Por acaso não seriam o nascimento e a morte? Pode haver quem não a aceite, todavia, contrariá-la é tentar desmentir o “desmentível”. Essa multiplicidade de “verdades” resume-se a opiniões diversas, naturalmente, divergentes que fazem com que o interminável puzzle se vá construindo durante o seu eterno, mas imprescindível percurso de montagem. Uma quimera, unicamente, uma utópica realidade, seria capaz de representar o cenário de seu término.

A busca pela verdade subjetiva surge da necessidade de satisfazer as mais hedónicas vontades humanas que utilizam de artifícios para massagear a culpa ou tentar justificar seus atos. A crença na inexistência de um deus que pune aqueles que contrariam seus princípios serve de conforto a esses “infratores”. O ateísmo parece ser sua saída mais fácil, nesse caso, assim como o culto religioso aos mais auspiciosos num além-vida. O teatro da vida oferece diferentes oportunidades de representação de papel para cada um. Mas nada disso realmente importa se, na verdade, vivemos perante uma realidade pré-concebida, onde as nossas individuais ações de maneira nenhuma importam pois de nada mais que marionetas passaríamos e, por isso, descartáveis opiniões – e não verdades.

 

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