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Uma filha de Santa Cruz na política na SUÍÇA
Ponto de Vista

Uma filha de Santa Cruz na política na SUÍÇA

Landinha foi sempre uma cidadã muito atenta e não se coibia de envolver em atividades de caris filantrópica, social, educativa ou comunitária, pelo que se entregava de corpo e alma, «sen djobe pa ladu», a essas causas. Com muito pouca carne a cobrir-lhe os ossos, ela projetava ideias que suscitavam dúvidas entre os colegas, a ponto de se interrogarem se eram ideias realmente provindas do cérebro escondido naquela sua cabecinha. Foi ela a arquiteta e ideóloga do Festival de Areia Grande no concelho de Santa Cruz.

Josefa Fernandes Soares Jaquet, conhecida por Landinha de Orlando Padeiro, é uma cabo-verdiana natural de Santa Cruz, mais concretamente, do Centro do Porto Santiago. Filha de pais Maienses, a D. Dunda e o Sr. Orlando Padeiro. Orlando, não obstante ter nascido na ilha do Maio, era descendente de progenitores oriundos do Tarrafal de São Nicolau. Ainda moço migrou-se para a cidade da Praia, onde trabalhou como padeiro na Padaria do Manito Bento. E teve como colega de profissão o popular Chicote, que veria a notabilizar-se com a criação da famosa marca «Pon di Xikoti». Voltou depois para a sua ilha berço e montou aí uma pequena Padaria. Mas por muito pouco tempo. Apercebeu-se da exiguidade do mercado, muito aquém da sua ambição enquanto empreendedor desse ofício, apanhou o Falucho, sabe-se lá, se «Belmira» do David, ou «Aleluia» do Nico [?] e, já casado e acompanhado da esposa, aportou-se no Cais de Pedra Badejo, onde se instalou num espaço arrendado em Porto Abaixo e erigiu um empreendimento na área da panaria. Mais tarde, construiu o seu próprio espaço em Covão de Salina, na rampa da Estrada Nova, com todas as condições requeridas para uma fábrica de panaria consentânea.

Movido, quiçá, pela sina que sentencia o fado de qualquer cabo-verdiano, Orlando arriscou-se na emigração em França. Mas as saudades da sua Dunda, das filhas Biazinha e Santa que haviam já nascido, da Landinha que deixara concebida e na esperança de que viria o Dinho, o caçula e único rapaz, a par de paixão por fazer pão, não o deixaram muito tempo em terras da França. Regressou-se e estabeleceu em Porto Santiago, onde fixou a sua residência definitiva nessa pequeníssima aldeia denominada «Pedra Badejo» na freguesia de Santiago Maior. Instalando-se aí, continuou a sua atividade de padeiro que lhe valeu o epíteto de Orlando Padeiro. A sua padaria era a única e foi a primeira que abastecia pães e bolos nas freguesias de Santiago Maior e de São Lourenço dos Órgãos. Ele foi o percursor da panara nessas duas freguesias que, mais tarde, em 1971 veriam a constituir-se o concelho de Santa Cruz, desmamando-se, assim, do concelho da Praia.

À semelhança do seu colega Chicote, Orlando criou também duas marcas na panaria santiaguesa: a «Nhanhinha» ou «Pão de Trigo/Pão de Sal» e «Pidónga» ou «Pão de Milho/Pão Doce». E essas denominações se notabilizaram porque provieram em homenagem a uma mãe, a [Pidónga] de cento e poucos anos de idade e, sua filha, a [Nhanhinha] de oitenta e tal.

Landinha foi sempre uma cidadã muito atenta e não se coibia de envolver em atividades de caris filantrópica, social, educativa ou comunitária, pelo que se entregava de corpo e alma, «sen djobe pa ladu», a essas causas. Com muito pouca carne a cobrir-lhe os ossos, ela projetava ideias que suscitavam dúvidas entre os colegas, a ponto de se interrogarem se eram ideias realmente provindas do cérebro escondido naquela sua cabecinha. Foi ela a arquiteta e ideóloga do Festival de Areia Grande no concelho de Santa Cruz. Imbuída de um espírito concorrencial, inspirada a partir de uma das sessões do Festival da Gamboa, a jovem Landinha lançou um repto:

– Por que não [também] uma coisa semelhante nesta nossa grandiosa e vasta praia de areia negra?

De imediato encetou contactos e começou a desenhar mentalmente o projeto. Enquanto professora, convidou alguns amigos e colegas, como o Bilai [já falecido]; a Xanda de Ruia; o Nelito de Nininha ou Barão; os elementos do conjunto musical «The Strongs», que era liderado por Kin di Mimozu ku Ana; a Zinha de Nha Montinha [também já falecida], foram apresentar ao Vereador João Ramos a proposta. E a primeira sessão aconteceu com a jovem e encantadora Xanda a subir ao palco e fazer a apresentação daquele certame. Participaram os seguintes grupos: «Nhu Henrique tocador de cimboa; os filhos do Egídio de São Lourenço dos Órgãos, tocadores de gaita; Codé de Dona; Nha Násia Gomi e Batucadeiras da Zinha de Nha Montinha.

Entrementes, cumprindo-se com o estabelecido no ADN dos cabo-verdianos, na primeira metade da década de 1990, Landinha rumou-se para Holanda, inscrevendo-se na vasta lista de cabo-verdianos emigrados. Mais tarde, resolveu aventurar-se na Suíça, onde constituiu família e teve dois filhos. Sempre presente e atenta na educação das proles, quis ela transmitir aos meninos a paixão e o valor telúricos que sempre a nortearam. Por isso, ia constantemente à escola onde estudavam os miúdos para se inteirar do engajamento dos seus pequenotes. Nessas lides, granjeou a intropatia de um dos professores do seu filho, Eric Kung, membro do Partido Socialista Suíço.

Foi-se fortificando esse relacionamento amistoso, a pujança social e dedicação nas causas comunitárias implementadas pela Landinha, levou a que Eric Kung, depois de escolhido para se candidatar a Presidente da Câmara Municipal de Payerne, a escolheu por sua vez, para fazer parte da sua equipa. E logo na primeira volta foi eleita. Neste momento está-se a cumprir o segundo mandato de 5 anos, na qualidade de Membro da Comissão de Cultura.

Encontra-se, neste momento em Cabo Verde, passando uns dias de férias. E ontem, na esplanada do Café Sofia no Platô, cruzou-se com o Sr. Presidente da República, Dr. Jorge Carlos Fonseca, a quem se apresentou e firmaram esse momento com esta fotografia.

Afinal, Cabo Verde está na política francófona. Está também na Suíça, na pessoa da nossa querida Landinha de Orlando Padeiro «la di Portu Nhu Santiagu». 

Palmarejo, 10/10/2021

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