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Cabo Verde Airlines: fujam dela!
Ponto de Vista

Cabo Verde Airlines: fujam dela!

Ao longo dos anos trabalhando como jornalista e aficcionada pelas redes sociais, aprendi e entendi que compartilhar coisas ruins na web não é legal. Mas tem gente que não ajuda de jeito nenhum. No caso, a “gente” é uma companhia aérea que responde pelo nome de Cabo Verde Airlines e que opera em algumas capitais brasileiras com a frequência até Lisboa, com conexão na esplendorosa Ilha do Sal, na África.

Tive a infelicidade - azar, talvez - de comprar um voo da tal companhia, partindo de Fortaleza com destino final em Lisboa, e de lá pegar um comboio para o Porto, onde moro e teria uma prova inadiável do mestrado no dia 11 de junho.

Parti de Belém às 16h40 do dia 09 de junho e pousei na capital cearense às 18h30. O voo de Fortaleza para Lisboa, com parada na Ilha do Sal deveria decolar 1h05 da manhã, madrugada de domingo para segunda, dia 10. Mera ilusão. Ou melhor, claro pesadelo. Começava ali a maldição da Cabo Verde Airlines.

Surpresa infeliz

Ao comprar o meu voo, meu marido quis fazer uma surpresa para nossas filhas, que já vivem no Porto: comprou a passagem da nossa cachorrinha, Brigite, yorkshire de 17 anos. Ao confirmar a vaga do pet na companhia, conforme e-mail postado aqui pra vocês verem, a companhia pediu que enviássemos o comprovante de pagamento, de 48h antes do embarque, o que foi prontamente feito.

No entanto, ao fazer o checkin em Fortaleza, veio a primeira paulada. “Não existe reserva para o seu pet, senhora”, avisou a atendente. Questionei, argumentei, me afetei. De nada adiantou. “Seu pet só pode embarcar se a senhora pagar a taxa de 730 reais. Depois a senhora pede reembolso”.

Depois de pagar, pela segunda vez, a passagem da minha cachorra, fui, enfim, para a área do embarque. Vocês não imaginam a energia ruim que senti. Dos funcionários, da falta de humanização, todos de cara amarrada, de tudo. Mas eu só queria chegar em casa e surpreender minhas filhas.

Voo cancelado

Meia-noite. Uma voz começou a soar distante, abafada. “Atenção, passageiros do voo VR668, da Cabo Verde Airlines, com destino a Lisboa....”. Graças a Deus, comemorei. Coitada. Mal sabia o que me esperava.

Voo vazio. Minha poltrona, a 11A, tinha a sequência toda pra mim. Mas deu 1h05, 1h30, 2h, 3h, e nada de decolagem. Brigite latia. Comecei a me esticar. Pouco a pouco homens entravam no avião. Até que veio a voz do comandante. “Boa noite, senhoras e senhores. Aqui quem fala é o comandante. Gostaria de informar que infelizmente não podemos decolar porque estamos com um problema na navegação e precisamos aguardar a equipe técnica. Em breve teremos novas informações”.

“Pessoal de terra”

Três horas depois, veio a confirmação de que o voo estava cancelado e que os passageiros deveriam desembarcar e procurar o “pessoal de terra”, aqueles mesmos mal humorados e sem a me-nor aptidão para lidar com um problema desse tipo. Problema que para as companhias aéreas deve ser visto como corriqueiro. Ou a Cabonãoseidasquantas não tem um departamento para enfrentar um cenário de crise?

O que me causou preocupação foi ter ido até meu amigo Google e jogar “o que as pessoas falam da Cabo Verde Airlines”. Não vou nem falar mais nada. Vejam vcs mesmos os prints abaixo.

Incompetência nível hard

Eu só pensava comigo: meu Deus do céu, como vou fazer minha prova? O que vou explicar na universidade? Preciso de fotos, documentos, vídeos, qualquer coisa pra me munir de provas.

Acontece que eu fui a última criatura a ser atendida pelo “pessoal de terra”. Seis da manhã, a supervisora, que identifiquei como Michele, repetiu três vezes que estavam procurando um hotel pra mim que aceitasse pets. Eu continuava ali, vendo o dia nascer, com minha idosa pendurada a tira-colo.

Show de abusos

Aeroporto vazio, deserto, minha cabeça explodindo, fome, sono, desespero. Nenhum “pessoal de terra” apareceu pra me acalmar ou me oferecer uma água que fosse. Um homem, identificado como Hamses, chegou até mim e soltou a primeira pérola: “senhora, nenhum dos nossos hotéis parceiros aceitam animais. Sugiro que a senhora procure um hotel por conta própria, pague, e solicite o reembolso”.

Aí baixou a primeira entidade: QUER DIZER QUE VOCÊS VENDEM UMA PASSAGEM PRA PET E NÃO TÊM HOTEL PARCEIRO QUE ACEITE ANIMAIS NUM CASO DE EMERGÊNCIA?

E qual a solução pro meu problema?, perguntei. Pasmem com a resposta: “não temos solução”. Quase sem acreditar e com o choro entalado, exigi que ele encontrasse uma solução. Meia hora depois, o senhor Hamses voltou com um voucher e logo foi dizendo: “já lhe adianto que esse hotel não é bom”.

Realmente, o hotel não era bom. Mas nesse processo todo foi a única coisa que me deixou tranquila. Meu marido, de Belém, entrou em ação e rápido fez contato com a dona da pousada, que preparou meu café, me deu carinho e cuidou da minha cachorra.

Zero informação

Me joguei na cama às 7h e às 9h acordei pra ir novamente ao aeroporto atrás de informações do voo. Eu tinha uma prova. Me preparei. Mas não adiantou. O “pessoal de terra”, como esperado, não tinha qualquer informação sobre o novo voo. Então expliquei minha situação do compromisso no Porto, mas a única coisa que disseram foi que esperasse a ligação da companhia. No hotel, já que não adiantava ficar no aeroporto.

Detalhe: todos os passageiros do voo cancelado foram hospedados em bons hotéis, com direito à alimentação. Eu, não! Não tinha roupa pra trocar e só pensava em tomar banho. “Não tenho direito ao voucher pra almoçar?”, perguntei para a atendente, identificada como Janaína. Ela chamou um funcionário chamado Carlos, que virou de costas e continuou a conversar com um colega do aeroporto, enquanto eu fiquei lá, parada, inerte, humilhada.

Então resolvi almoçar no próprio aeroporto - eu mesma paguei - e levei um peito de frango pra Brigite, que me aguardava aflita no quarto apertado do hotel.

Segunda-feira sem fim

Quatorze horas. Tive de ir em busca de alguma informação sobre o tal novo voo que o “pessoal de terra” havia me informado que daria “a partir das 14h”. Claaaaaaro que ninguém tinha informação. Aliás, tinha sim. “Estamos esperando uma peça chegar. Então peço que a senhora fique no seu hotel e aguarde que vamos fazer contato”. VÃO LIGAR PRA ONDE, MINHA FILHA? VOCÊ SABE MEU NOME, SABE EM QUAL HOTEL EU ESTOU, SABE O MEU TELEFONE? “Que hotel a senhora está?”. OOOOOI???

A Cabonãoseidasquantas não sabe onde sua passageira de um voo cancelado está hospedada, não tem o contato dela e ainda me deixa sem um copo d'água? Demais, hein?

Por volta das 16h, enquanto eu fazia um Boletim de Ocorrência no posto da Polícia Civil dentro do aeroporto, juntamente com outros sofredores, uma mensagem no meu WhatsApp - depois de eu exigir que anotassem o número, claro - pedia que eu voltasse ao guichê da companhia aérea para receber a informação sobre meu voo.

“Conseguimos colocar a senhora como prioridade no voo da TAP que sai hoje, às 22h30, para Lisboa. Só tem um detalhe: a senhora precisa pagar a passagem do seu pet”. Como vou pagar pela terceira vez uma passagem se o problema é de vocês e não meu?, questionei. Claro que não adiantou. Fui até o balcão da TAP, chorando muito, e tive que pagar, novamente, R$ 730, para embarcar com a minha cachorra.

Voltei ao hotel, peguei minhas malas, a Brigite, e às 18h estava de volta ao aeroporto, em primeiro da fila para o checking da TAP. E pontualmente o voo decolou.

A enrolação

Agora é que são elas. O reembolso dos dois pagamentos da taxa de embarque da minha cachorra até hoje não saiu, apesar de envios diários de e-mails cobrando.

Fiz uma postagem na página da companhia no Facebook e fui bloqueada. Atitude típica de empresa de quinta categoria que não sabe lidar com seus steakholders (eles não devem nem saber o que é isso). Não quero nem pensar se o pior acontecer um dia...

Mas, tenho perguntinhas aos gestores:

- Quem paga minha alimentação durante o dia em que eu estive em Fortaleza, das 2h da manhã às 22h30, hora do meu embarque?

- Quem paga os Uber que tive que ir e voltar do hotel ao aeroporto em busca de informações sobre o voo cancelado?

- Quem paga o meu comboio perdido de Lisboa pro Porto na segunda-feira, devido o cancelamento do voo?

- Quem vai pagar o estresse que eu vivi?

- Como vocês vendem uma passagem para um pet e não têm hotéis parceiros que aceitem animais, em caso de cancelamento de voos?

- O reembolso, já solicitado há semanas, sairá quando?

Aos leitores do blog e internautas de todo o mundo, um conselho: o barato pode sair caro. Muito caro. Portanto, pesquisem muito sobre qualquer empresa de aviação. Nenhum valor baixo vale nossa tranquilidade e nossa paz. No meu caso, por muito pouco não perdi meu semestre no mestrado. Por isso, reforço: não voem com essa companhia. Ela cheira a problema. #ficaadica

Texto publicado por Yáskara Cavalcante no Roma News

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