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Cândido Rodrigues denuncia clima de intimidação interna no MpD e pede Convenção Extraordinária "urgente". É o fim do ulissismo? (Com video)

Adensa a crise política no MpD, consequência directa da amarga derrota do seu líder histórico, Carlos Veiga, nas presidenciais de 17 de Outubro, logo na primeira volta. Desta vez, é o ex-dirigente e deputado ventoinha pelo círculo das Américas a engrossar o caudal de críticas a Ulisses Correia Silva, antes unânime junto das bases, mas hoje acusado de "perseguição e intimidação" dos militantes, além de culpado pelas derrotas nas eleições autárquicas na Praia e noutros municípios-bastiões do MpD e de ser, no entender dos seus opositores internos, o mentor de uma estratégia para tramar Carlos Veiga, que, assim, frustrou pela terceira vez a hipótese de chegar à Presidência da República. Num vídeo publicado na rede social Youtube, Cândido Rodrigues denuncia um clima de crispação interna e pede uma convenção extraordinária.

As eleições presidenciais de 17 de Outubro, ganhas à primeira volta por José Maria Neves, continuam a fazer estragos nas hostes ventoinhas. Depois do deputado Emanuel Barbosa colocar o dedo nesta ferida ainda aberta, e de Pedro Alexandre Rocha reforçar o argumento de que a direcção do MpD e o Governo trabalharam para tramar Carlos Veiga, os destroços desta "quase-implosão” que rebentou no seio do partido da maioria terão abatido também sobre o Executivo, com o ministro da Economia Marítima, Paulo Veiga, primo-irmão de Carlos Veiga, a pedir a sua demissão.

E este domingo, o ex-dirigente e deputado ventoinha pelo círculo das Américas, Cândido Rodrigues, aumentou o tom das críticas, colocando para fora tudo o que se passa dentro do MpD e que está a levar o partido ventoinha para uma profunda crise, tendo como pano de fundo as presidenciais de Outubro, divergências ideológicas e distanciamento da cúpula em relação às bases do partido. Será o fim do ulissismo no MpD?

 

Clima de intimidação interna

 

Num vídeo de pouco mais de 8 minutos, publicado no Youtube, (também pode clicar na imagem para ver o video na íntegra), Cândido Rodrigues afirma que “todos sabem que a situação actual do MpD é altamente crítica”,  mas que “muitos não conseguem falar por causa do medo”.

“Hoje temos um partido onde o medo impera. Uma maioria de militantes tem-se sentido extremamente intimidado, sobretudo com a estratégia que a liderança montou por forma em eliminar algumas vozes críticas e refundar o partido. Um sistema que realmente tem trazido vários descontentamentos internos, sobretudo para as pessoas que são militantes fiéis a partido”, denunciou.

Para este militante, a primeira machadada que o MpD teve foi a alteração do seu estatuto. “Lembro-me que a maior preocupação do actual líder do MpD foi mudar o estatuto. Ele criou uma comissão política  à sua imagem, aliás todas as pessoas que estão na comissão política são pessoas que ele Ulisses acha que o seguem religiosamente sem fazer nenhum tipo de oposição”, contou.

Prosseguiu Cândido Rodrigues afirmando que Ulisses também criou uma direção nacional à sua imagem, ou seja, disse ele, “UCS fez a alteração do estatuto e criou todo o suporte à sua volta para poder tomar um conjunto de medidas para com pessoas que ele acha que não conta com elas ou para pessoas que ele considera ser uma preocupação para ele dentro do partido”.

O meu apelo vai no sentido de todos os militantes juntarem e exigirem uma convenção extraordinária, sobretudo para mudar a situação actual do MpD. Primeiro medida passa por uma nova comissão política e uma nova direção, mas que não sejam escolhidas por Ulisses Correia e Silva, mas sim pela base do partido”, apelou.

Ainda no mesmo vídeo, Cândido Rodrigues realçou que foi tomado um conjunto de medidas ilegais dentro do partido, que ferem, sobretudo, o estatuto partidário.

“Perseguição interna, intimidação, todas essas coisas são preocupações que nos trazem a fazer este vídeo. O partido não tem critérios. As condições internas são desafiadoras, portanto  o líder criou um ambiente de crispação dentro do partido. A escolha das pessoas tem sido feita à medida de Ulisses Correia  e de uma comissão política que o próprio controla, ou seja, ninguém entra numa lista sem indicações de Ulisses Correia”, queixou.

Os Estados Unidos são, segundo Cândido Rodrigues,  “exemplo claro e prático”. “Ulisses escolheu uma pessoa para ser coordenador e desde aquela altura deixou de haver eleições, agora escolhem as pessoas e colocam nas listas. Estão piores do que a Guiné-Bissau e outros países da África onde a democracia não funciona praticamente”, continuou.

Rodrigues afirma haver neste momento um grupo de interesses instalado dentro do MpD, que controla partido e que dita ordens. Indivíduos que,  disse, “por ironia do destino”, estiveram fora do partido, estando na origem de desmembramentos do partido no passado, mas que hoje controlam o sistema do partido, dando ordens e criando imagem negativas de pessoas que acham que não são convenientes. “Devemos acabar com tudo isto. Temos que exigir esta convenção extraordinária para discutirmos um novo modelo de funcionamento do partido”, suplicou.

Mágoa e aviso: “Essa derrota de Carlos Veiga não ficará em branco”

No mesmo vídeo, Rodrigues criticou a forma como foi trabalhado o dossiê das  autárquicas de 2020 que levou, inclusive, o MpD a perder algumas câmaras importantes, como a Praia e os municípios bastiões ventoinhas como São Domingos e Tarrafal de Santiago.. Mesmo assim, disse que, apesar da mágoa e tristeza, todas as pessoas do MpD se juntaram e trabalharam pela vitória nas legislativas de abril último por terem se apercebido que o partido iria perder as eleições. 

Mas isso não aconteceu nas presidenciais com Carlos Veiga. Isto é uma coisa que mais me magoou muito como uma pessoa que gosta da política. Porque Carlos Veiga é a pessoa que não merecia este tipo de castigo. Veiga é alguém que mais fez e lutou para o partido e agora é mais penalizado pelo sistema MpD”.

Para Rodrigues a derrota de Carlos Veiga foi, sobretudo, o reflexo do que Ulisses Correia e Silva prepara para o seu futuro. “Ninguém me vai convencer em sentido contrário. Não vou entrar em pormenores. Mas essa derrota de Carlos Veiga não vai ficar em branco. Temos de agir, unir todos os militantes em todas as partes do mundo e exigir urgentemente uma convenção extraordinária. Mas não uma convenção de Ulisses Correia e Silva. Tem de ser uma convenção de militantes do MpD. Sobretudo de militantes de base, onde podem falar, discutir e escolher um melhor modelo de funcionamento do partido. O sistema de ditadura interna que o MpD tem neste momento tem que terminar urgentemente. Caso contrário, Ulisses ficará sozinho com o seu grupo”, avisou.

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