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Proprietária da barraca arrombada desmente CMP. “Não tenho casa”
Sociedade

Proprietária da barraca arrombada desmente CMP. “Não tenho casa”

“Não tenho casa. Nunca tive uma casa que fosse minha”. É com esta afirmação que Norberta Tavares Semedo começa a falar com Santiago Magazine, para desmentir a vereadora de Acção Social da Câmara Municipal da Praia (CMP), Ednalva Cardoso, que no jornal da tarde da TCV desta terça-feira, 5, sugeriu que a proprietária da barraca arrombada pela autarquia capitalina tinha uma outra casa, dando a entender que a referida construção clandestina estava destinada a negócios.

Os factos ocorridos dão conta que uma barraca foi arrombada pelos serviços de fiscalização da CMP, no dia 30 de abril. O cubículo, que se encontrava em construção, pertencia a Norberta Tavares Semedo, 46 anos de idade, que confidenciou ao Santiago Magazine ser esta a sua terceira tentativa de construir um teto para morar com os seus 4 filhos, sendo um com graves problemas de saúde, deitando assim por terra alegadas manobras de especulação de terrenos, invocadas pela vereadora Ednalva Cardoso.

Conhecida por Berta, esta mãe solteira de 4 filhos, com idades compreendidas entre 25 e 10 anos, é perentória quando diz que há vários anos vem perseguindo “o sonho de ter uma casa própria”, porém sem sucesso.

Nos primeiros anos da década de 2000, Berta havia tentado a sorte na localidade de Bela Vista. Na altura, esta vendedeira ambulante chegou a trabalhar a fundação e as paredes, e quando faltava apenas a cobertura, apareceram os fiscais municipais e tudo foi por água abaixo.

“A Câmara Municipal chegou com a sua fiscalização, retirou-me o terreno e vendeu a um emigrante de Picos, que vivia na Suíça”, conta esta mulher, chefe de uma família monoparental, e que apesar das lutas que empreende para levar o pão à mesa, ainda toma conta de um filho que padece de problemas de saúde há vários anos, “sem conseguir prosseguir com as consultas devido aos custos associados”.

Mulher de fibra, Berta não desiste, e passados alguns anos, parte para uma segunda tentativa, esta no bairro do Palmarejo, na encosta que fica localizado por baixo do Chafariz da zona.

“Comprei um terreno por 10 mil escudos, construi os alicerces, passei o “raspal”, e logo a seguir a Câmara Municipal vendeu um lote contíguo ao meu, impedindo-me de construir”, recorda, explicando que, sendo um terreno clandestino, não poderia continuar os trabalhos.

É evidente que durante esse tempo que Berta anda atrás de construir uma casa, ela não dormiu na rua, sempre arruma uma casinha arrendada aqui e ali para morar com os filhos.

Neste momento, explica, está a morar numa casa com um único quarto, no bairro de Bela Vista. A casa é propriedade de um cabo-verdiano, emigrante em Portugal, e está a cargo de uma senhora de nome Elisa, residente em Achadinha.

Tendo em conta as dificuldades que naturalmente uma vendedeira ambulante enfrenta para fazer face aos encargos familiares, Berta diz que não tem conseguido pagar as rendas, cujos atrasos atingiram já os 17 meses.

E é com este problema na consciência, que Berta resolveu mais uma vez embarcar no sonho de construir uma casa que seja sua. Assim partiu para a materialização da ideia de levantar uma barraca em Simão Ribeiro, a ver se desta vez conseguiria ter o seu próprio teto. Tanto mais que, segundo diz, naquela localidade existem mais de 30 barracas, maioritariamente pertencente a jovens e ninguém as mandou a baixo. “Mais velha aqui sou eu”, observa.

Não sendo desta vez, Berta vai ter que adiar o sonho e continuar em Bela Vista, onde, desde há dois anos mora com os filhos no cubículo arrendado à senhora Elisa. Antes o preço mensal da renda era de 7 mil escudos, entretanto, como os rendimentos da sua atividade de vendedeira têm vindo a reduzir de ano a ano, a responsável do imóvel tirou 2 mil escudos, ficando assim pelo valor de 5 mil escudos mensais.

“Mesmo assim há um ano e meio que não pago as rendas”, observa esta profissional do setor informal, avançando que este problema a terá impelido também a avançar com a construção da barraca ora destruída pela equipa camarária dirigida por Óscar Santos.

Sobre a declarações da vereadora da Câmara Municipal da Praia, na TCV, alegando que ela estaria a construir barraca para vender, Berta é categórica: “é mentira, eu  nunca tive uma casa que fosse minha até hoje, como é que vou construir barraca para vender?”, questiona.

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Redação