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AS TRAPALHADAS LINGUÍSTICAS E A DERIVA LIBERTINA  DE SAMILO MOREIRA NO SANTIAGO MAGAZINE
Ponto de Vista

AS TRAPALHADAS LINGUÍSTICAS E A DERIVA LIBERTINA DE SAMILO MOREIRA NO SANTIAGO MAGAZINE

Eu tenho por mim que a velhice não é uma inutilidade, mas sim uma lâmpada incandescente e virtuosa que ilumina e guia para a vereda do conhecimento e da verdade. Quem despreza a idade despreza aqueles que lhe transmitiram a vida e despreza a história da sua família e do seu povo. Orgulham-me os meus 60 anos de idade, tão viçosos e viris, com provas dadas. Com esta idade de oiro sou pai de uma criança de 4 anos de idade e outra a caminho. Portanto Samilo, estou completo, em tudo, em lucidez e em consistência física, anatómica, biológica e psíquica para o confrontar de igual por igual.

Os meus cabelos brancos não são sinais de morbidade e de degenerescência, como entende o Samilo, pelo contrário são provas apenas de um caminho percorrido pelo tempo, com as suas virtualidades e preciosidades. Aqui del-Rei, do outro lado da trincheira, o meu corpo e o meu espírito ventilam o arejo que alimenta a luz da “minha lanterna acesa na linha de todas as batalhas” para confrontar Samilo e Samilos, quais soldados de Troia, free-lancer e franco atiradores, ávidos de atirar para matar, a todo o momento, como as tribos da floresta, talhadas, quais carrascos da Sibéria para aniquilar o “inimigo” que, na verdade, não o é, mas que aprenderam o maniqueísmo primário de que“ eu sou o bem e quem não está comigo representa o mal, logo quem não está comigo é meu inimigo e quem é amigo do meu inimigo também é meu inimigo”.

Neste espaço, eu falo em meu nome e não em representação de nenhum partido e de nenhum líder. Exerço a minha cidadania com liberdade e independência de pensamento, ora estando de acordo com o meu partido MPD e o governo, ora estando em desacordo com eles. O Samilo que é um jovem desatento é que só agora deu conta ter eu “ saído da capoeira entre a velhice e a morte”. O meu posicionamento tem sido público, neste espaço e noutros. Devo lembrar ao Samilo, desatento, o meu posicionamento crítico em relação ao manual de “Matimática”. E isto rendeu-me desagrados dos dirigentes e governantes deste país. É o custo da minha independência de pensamento, da qual não me abdico, em nome da Nação, que deve estar acima de qualquer partido. Idem, para a proposta de incompatibilidades do líder do meu partido, à qual discordei pública e frontalmente, também neste espaço e noutros, em nome de princípios e valores que defendo, não me importando da simpatia ou não de quem lidera o meu partido e o meu país. Quem me conhece e convive comigo sabe dos meus posicionamentos e de que eu não sou “homem de chupetas”. Nunca bajulei para sobreviver. Já passei a idade de bajular e tachar. Antes de entrar para a política já havia feito a minha formação e exercia a minha profissão de docente, com todo o orgulho e profissionalismo. A minha avaliação, como profissional, é feita pelos meus antigos alunos, hoje quadros deste país, colegas do Samilo. Sinto-me recompensado e confortado quando eles se aproximam de mim manifestando o seu reconhecimento pelo papel que eu tive na suas vidas e pelos valores que lhes transmiti. É este o único e genuíno reconhecimento de um professor: o dos seus próprios alunos. Outras avaliações de índole política que se fazem de mim considero-as, simplesmente, de baratas.

Confrontado com a verdade científica e com a evidência da sua ignorância grotesca, na ausência gritante de argumentos e de capacidade para exercitar o contraditório o Samilo optou pela velha prática dos fracos: partir para o insulto, a ofensa e a difamação, numa clara demonstração de pobreza de espírito e carência de valores e princípios, descendo a um nível tão rele, sórdido e abominável, roçando a obscenidade: “ …um professor com esse vocabulário deve ser igual ao porco no chiqueiro: um animal”; “age como galinha poedeira no cio”, palavras do Samilo. Um insulto e uma ofensa no seu extreme, fruto de uma raiva colérica e incontida, com os nervos ao rubro, punhos cerrados e dentes afiados em vias de facto. Ora, este comportamento e esta atitude são atípicos e incaracterísticos de uma pessoa que se auto considera de um jovem intelectual.

A intelectualidade é uma qualidade e uma particularidade que não se resume ao conhecimento tecnológico, científico, filosófico e cultural. Mais do que essas ferramentas, um intelectual só o é quando se reconhece nele valores e princípios éticos e morais que consubstanciam o seu ser e o seu saber-estar na comunidade. O Samilo está longe de alcançar o patamar da intelectualidade e o caminho a percorrer é lhe sinuoso e íngreme, a avaliar pelo seu temperamento colérico, pelo seu radicalismo exacerbado e pelo seu distanciamento dos padrões civilizacionais.

O comportamento e a atitude do Samilo são típicos dos “ jovens turcos” da actual liderança do PAICV, que em 2016 tomaram a dianteira desse partido e escorraçaram os ditos históricos de forma ostensiva, humilhante e vexatória dos órgãos de direcção. São jovens radicais, de pensamento “ortodoxo”, que se julgam salvadores da pátria e propõem uma revolução no interior do partido e do próprio país. Muito semelhantes aos “jovens turcos” históricos que no final da primeira guerra mundial (1918) tomaram o poder de assalto na Turquia e instauraram uma ditadura sangrenta, baseada num nacionalismo exacerbado que deixou um rasto de destruição e mortes de milhões de pessoas, com a perseguição de arménios, assírios e gregos. O radicalismo e o nacionalismo exacerbados levam à intolerância, ao ódio e à perseguição. Era este o cenário que se estava a desenhar em 2016, com “os jovens turcos” como o Samilo, que pretendiam tomar de assalto o poder em Cabo Verde. Felizmente o povo que não é “nocente não” deu conta da verdura dessa “juventude revolucionária e nacionalista” e lhes negou o poder, com o seu voto democrático, evitando que o país entrasse, de novo, no período de intolerância e “caça às bruxas”. Este é um problema que subsiste no interior do PAICV, com a proeminência desses “jovens turcos” na liderança dessa formação política, que se não for resolvido pelos seus militantes, o poder fica-lhes cada vez mais distante.

Ninguém contesta a crítica e o exercício da liberdade de expressão e de pensamento. Por estes valores eu batalhei nos anos 80, juntamente com os jovens da minha geração, para que Cabo Verde fosse um país de liberdade e de democracia, onde os direitos humanos são respeitados e realizados. Portanto, Samilo, a minha “saída da capoeira” foi desde essa altura. Os seus “camaradas” da minha geração dir-lhe-ão os embates que travámos nessa altura e você ainda nem sequer tinha nascido ou era um bebé. O que se contesta e se repudia são os seus excessos de liberdade. A liberdade tem limites. Quando a liberdade é exercida para insultar, ofender e humilhar deixa de ser liberdade. Há liberdade e libertinagem. A sua atitude em relação ao PM de Cabo Verde expondo-o numa situação de afronta autêntica é uma deriva libertina que merece a minha indignação e rejeição. Foi por essa razão que decidi intervir para o confrontar com essa triste realidade que em nada dignifica a nossa liberdade e democracia.

Ainda ontem vi, com satisfação, um gesto de humildade e de reconhecimento do erro por parte dos seus “camaradas” da JPAI-Portugal que postaram um pedido de desculpa ao nosso PM pela publicação de um artigo que eles consideram de desrespeitoso para o chefe do governo. Espero que o Samilo dispa a sua capa de arrogância e siga o exemplo dos seus colegas de Portugal.

Por outro lado, o Samilo “intelectual” demonstra uma pobreza de análise e uma incapacidade notória de argumentação. Escreve um longo texto, eivado de erros linguísticos graves, recorrendo-se ao plágio transcrito de artigos pesquisados em google, em revistas e livros de alguns autores, sem citar a fonte e apropriando-se, desonestamente, desses estudos para ludibriar os leitores, fazendo passar a ideia de ser ele o autor dessas ideias. Uma autêntica falsidade e desonestidade intelectuais. Mais de 60% do longo texto que apresentou são plágios disfarçados com algumas palavras suas que, traiçoeiramente, desvirtuam o conteúdo das análises pesquisadas.

Seria até normal a pesquisa de textos científicos e outros para argumentar a sua posição. O que é contestável e anormal é o facto de não citar a fonte e os nomes dos autores, deixando os leitores com a sensação de que essas ideias são da sua própria autoria. A isto se chama PLÁGIO e APROPRIAÇÃO ILEGÍTIMA DA PROPRIEDADE ALHEIA.

O Samilo “intelectual” insiste em apregoar “conhecimentos científicos” do campo da linguística, numa ousadia peregrina e em contramão com a Ciência, trazendo ao colectivo proposições descontextualizadas de qualquer saber fundamentado em base científica, tais como: “ Tecnicamente, como exemplo de língua artificial, têm as linguagens utilizadas nos domínios científicos e tecnológicos (ex: programação computacional)”, fim de citação de Samilo. Ora, esta afirmação é um verdadeiro atentado à Ciência e prova de que esteve muito mal assessorado. Não existe nenhum manual científico e académico que sustenta tal afirmação. Primeiramente, não existe língua artificial, a não ser no plano imaginário. No contexto situacional e no plano de comunicação todas as línguas realizadas são naturais e nunca artificiais. Do ponto de vista científico é impossível a existência de uma língua artificial. Daí que a programação computacional só pode ser feita na base de uma língua natural. Por outro lado o Samilo “intelectual” mistura conceito de língua com o conceito de linguagem e é incapaz de diferenciar língua de linguagem e faz uma salada russa falando, com total indiferença, de língua e linguagem como se fossem um mesmo conceito. Esta é, na verdade, uma autêntica aberração, que passa ao lado de qualquer conhecimento linguístico de base cientifica.

Mais à frente a aberração de Samilo aumenta de intensidade quando sai com mais esta: “ o inglês é a língua natural e Universal ou Mundial, porque nesse planeta Terra, se reunir “qualquer cidadão”, de qualquer parte e em qualquer parte do mundo, a língua do diálogo (de referência) é o inglês”. Meu Deus! Que absurdo! Quão ignorante e atrevida é esta expressão! Os cidadãos de várias partes do mundo quando se reúnem cada qual fala a sua língua e há intérpretes para fazerem a tradução. O exemplo são as Nações Unidas que têm dezenas de línguas oficiais e os lusófonos estão a batalhar para que o português seja considerado língua oficial da ONU. Em todas as conferências internacionais o inglês não é a única língua de referência, mas sim uma das línguas internacionais de referência, juntamente com o francês, o castelhano, o russo, etc. Essa tirada do Samilo “intelectual” é uma provocação aos francófonos que têm uma forte rivalidade com os anglófonos. Por outro lado, a nível planetário, como ele se referiu, há milhões e milhões de cidadãos que não têm o domínio e nem o contacto com a língua inglesa. Mesmo nos países ditos anglófonos, em muitos deles, a maioria da população não têm o domínio do inglês e não o utilizam em situação de comunicação. Daí que falar do inglês como língua universal é uma falácia grotesca do nosso Samilo “intelectual”. Quererá o Samilo dizer que o inglês é a língua mais conhecida a nível territorial. Na verdade o inglês pode ser utilizado como instrumento de comunicação em qualquer continente do mundo, mas isto não faz dele uma língua universal. Não existem estudos científicos que consideram o inglês, língua universal, a não ser em linguagem corriqueira, como a do Samilo. Desafio o nosso Samilo "intelectual” que cite um autor linguista que considera o inglês, língua universal. O Samilo revela aqui um jovem pseudointelectual, que sofre de complexo de inferioridade em relação às outras culturas, nomeadamente, à cultura anglófona, que despreza e humilha, publicamente, não só o PM do seu país, mas também a língua e a cultura do seu povo.

O Samilo e os Samilos funcionam nessa lógica maniqueísta e cedo despertaram-se de que eles são “livres”, “iluminados” e “superiores” e lançam o apelo à libertação dos outros que consideram presos, ignorantes e inferiores. É o resquício da velha aprendizagem dos pupilos de Abel Djassi, dos tempos áureos do partido único (PAIGC/CV) que teimam em persistir na mente dos tamborinas de que eles são “os melhores filhos do nosso povo” e o partido a“força, luz e guia do nosso povo”.

O Samilo é o retrato caricatural dos inconformados do PAICV que, apesar de anos de democracia em Cabo Verde, ainda não se conformaram ao sistema e rejeitam, sorrateiramente, a escolha do povo, considerando-o ignorante e inapto para exercer a cidadania democrática. São, por esse motivo antissistema e se arvoram contra os representantes do povo e contra os governantes escolhidos pelo povo, quando não coincidem com os seus “camaradas”. Esta é a razão que subjaz no comportamento selvático e de alto grau de incivilidades quando insurgem atacando, insultando, ofendendo e humilhando o Primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, recorrendo-se a todos os pretextos para o fazerem, sem escrúpulos e pudor, não se interessando pela imagem do País, pela paz e estabilidade que devem prevalecer numa sociedade democrática e civilizada. O exemplo desse pretexto é a comunicação em inglês do PM, num encontro com empresários estrangeiros, em Portugal. O Samilo e os Samilos deturpam e manipulam a comunicação do PM, em inglês, num esforço para o ridicularizar e humilhar publicamente, na expectativa de conseguirem aniquilar o homem, o político e o governante e, desta forma, chegar ao poder quanto antes. É a ganância desmedida e incontida do poder, qual Príncipe Maquiavel, que apoquenta e agita os espíritos inconformados do Samilo e Samilos, não aguentando as amarguras sentidas da condição de oposição.

O Samilo que se apresenta como um jovem quadro enverga uma roupagem, no mínimo, de um jovem distraído e arrogante, ao mesmo tempo, mostrando laivos de uma alienação crónica e doentia, fruto quiçá dos tempos de Universidade em que esteve , por muito tempo, ausente de Cabo Verde e se convenceu de que ao regressar ao país viria a encontrar uma realidade de gente estúpida e destituída de saberes e informação, de gente que parou no tempo e ele se apresentaria então como o único de “inteligência superior” e “iluminado”, dando lições e tomando posições para mudar o rumo da situação. Chegará o momento em que o Samilo, que vive com os pés no ar, depois de esbarrar com a cara contra o muro, tomará consciência da realidade e quando voltar para trás deparará com uma realidade confrangedora de desilusões e desencantos. Todos que tiveram a atitude arrogante e soberba, que desprezaram e afrontaram o outro teve esse mesmo desfecho. A sua distracção roça o ridículo ao ponto de ignorar a cultura geral de base, pois só deu conta, agora, cínica e hipocritamente, da minha existência no mundo da política aos 60 anos de idade. Ao mesmo tempo mostra ter o conhecimento de que fui deputado da Nação. Talvez não saiba também, cínicamente, de que fui presidente da Câmara de Santa Cruz de 1992 a 2000. Mais uma vez é a ignorância atrevida e persistente do Samilo ao tentar minimizar a minha participação na vida política do meu país. Mas, esqueceu-se de que quem conhece e reconhece a participação de um cidadão na vida do seu país é o povo e a história regista. Por mais que o Samilo tente apagar, com a sua “borracha” escaqueirada a minha participação política na vida desta Nação não conseguirá, jamais, fazer desaparecer da memória dos munícipes de Santa Cruz e de Cabo Verde em geral que fui o primeiro presidente da Câmara de Santa Cruz, eleito democraticamente, nas primeiras eleições autárquicas em Cabo Verde, em Dezembro de 1991. Este facto histórico transpõe a vontade patética e bizarra do Samilo.

Pela liberdade e democracia!!

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