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Tempo de arrepiar caminho
Ponto de Vista

Tempo de arrepiar caminho

1. Devemos ter a humildade de reconhecer que cometemos, todos nós, erros graves em 2011, quando nos dividimos em torno da questão presidencial. Eu, que era então líder do Partido, tenho mais responsabilidades e assumo-as na plenitude. Só quem não age deixa de errar. 

Enquanto instituição, o Partido saiu muito fragilizado e com enorme desgaste emocional. Foi necessário intenso diálogo entre nós, com humildade e sentido de responsabilidade - devemos respeito àqueles que, antes nós, fundaram e construíram o PAICV. Organizamos uma Conferência Nacional e em 2013 o Congresso da Reconciliação. As feridas de uma guerra de família levam tempo a sarar.

2. As lutas intrapartidárias são, devem ser, naturais nos partidos democráticos. São processos decisórios e de escolha das lideranças que são inerentes à democracia que caracteriza os partidos modernos moderados de esquerda ou de direita. 

Em Cabo Verde, as disputas no seio dos partidos, todos eles, têm-se transformado em fontes de conflitos e de divisões internas. As razões estarão relacionadas com imaturidade emocional e falta de inteligência contextual. Cada um quer ter toda razão e na busca de mais e mais e cada vez mais razão acaba por afogar-se nas próprias derivas e contradições. 

Nos partidos a adesão é voluntária. Todos amam igualmente o partido a que livremente aderiram e ninguém é mais militante do que o outro. É sempre perigoso alguém arvorar-se em titular da consciência moral do partido a que pertence, assumindo-se como inquisidor mor e único com capacidade de impor o bem aos outros.

As disputas só revelam vitalidade se as mesmas são feitas com base em ideias e propostas alternativas de governação partidária. 

Todos perdem quando uma disputa se resvala para ataques pessoais e destrutivos de carácter.

Cada ataque a um membro ou dirigente atual ou antigo é um golpe desferido no coração do próprio partido, que supostamente se defende.

Quem é membro e defende os princípios e os valores do PAICV não ataca os seus companheiros, na ilusão de que ele é “santo” e o outro é diabo, ele é o eixo do bem e o outro o eixo do mal. 

A política do terror e da inimizade nunca produziram bons resultados.

3. Peço, pois, aos meus companheiros que paremos com os ataques pessoais, porque independentemente do lado da barricada em que estivermos, estamos a destruir o Partido, quando desferimos golpes fatais àqueles que pensam de forma diferente de nós e que erigimos em inimigos a abater.

Podemos discordar e disputar em torno de ideias, com a consciência clara de que a democracia também pode ser compromissos. Neste momento devíamos estar a discutir a Agenda Autárquica e o Programa 2030 do PAICV, com propostas inteligentes, inovadoras, ousadas e adaptativas, para mobilizar a sociedade e os cidadãos em torno de novas ideias quanto ao futuro.

Precisamos de respeito mútuo e de autocontrole. Todos nós somos poucos para a grandeza da obra que nos espera.

Resgatemos o espírito de amizade e de companheirismo que devem nortear as relações entre membros de um mesmo partido. 

O PAICV é mais do que cada um e todos nós juntos.

* Texto publicado pelo autor no Facebook.

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Redação