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A “Despontecialização” do Concelho de Santa Cruz
Ponto de Vista

A “Despontecialização” do Concelho de Santa Cruz

O que mais se evidencia, hoje em dia, no nosso concelho, é o índice de desenvolvimento despencando-se ladeira a baixo, desenfreadamente. A nossa juventude caminha em direção aos ventos. E correm, em fuga, os nossos cérebros para as cidades vizinhas.

A título de informação, o concelho de Santa Cruz foi criado em 1971, pela desanexação de duas freguesias do concelho da Praia. Alberga cerca de 8,8% da população total da ilha de Santiago. Tem uma superfície de 150 km, uma população de 26.617 habitantes, onde 60% da população possui menos de 20 anos de idade, distribuídas por 24 localidades.

Desde o momento em que tomei consciência da minha existência, ouvi dizer que a nossa potencialidade económica gira em torno da agricultura, da pesca e da agropecuária.

Lembrei-me agora de uma história contada pelos meus pais. A de que, um dia, fomos responsáveis pela maior exportação de banana em Cabo verde. Estas recordações, foram contadas com lágrimas, por causa da ruína da Empresa Justino Lopes.

Custa muito acreditar nessas potencialidades. Uma vez que, os números nos fazem líderes na tabela do índice de pobreza desta nossa pátria amada, com uma taxa de 24% de desemprego jovem.

Estou ciente de que, a base da nossa prosperidade já foi identificada desde há muito. Entretanto, de quatro em quatro anos se elaboram as plataformas eleitorais, para nos “fazerem enxergar” essas potencialidades, que só foi possível sentir o verdadeiro “gosto” na época do senhor Almeida Henrique, com a industrialização da agricultura.

Com a falta de visão ou talvez orientação, a população vem sobrevivendo à extrema pobreza, por causa da “despontecialização” das nossas potencialidades.

Quando há uma política desacertada para o desenvolvimento económico do nosso município, que gera falta de ocupações e perda de esperanças, muitas das vezes, os jovens acabam sendo fortemente influenciados a seguirem o caminho das drogas, do álcool, da prostituição e da violência.

Enquanto se falhar redondamente na aplicação de uma política juvenil de excelência, em Santa Cruz, continuaremos aumentado a nossa população carcerária na Cadeia de São Martinho, e manter como um dos concelho com mais problemas de alcoolismo em Cabo Verde.

A falta de interesse dos agentes mandatados, em liderar e criar políticas credíveis e exequíveis para um desenvolvimento sustentável da nossa economia local, vem ferindo gravemente a autoestima da nossa população, principalmente a camada jovem.

Posto isto, não adianta vangloriar os grandes nomes artísticos da música cabo-verdiana, oriundos de Santa Cruz, que inegavelmente tanto nos orgulham, como por exemplo: Katxas, Élida Almeida, Nha Nácia Gomes, Thairo Kosta e entre outros artistas de deferentes campos de atuação, sabendo que há uma lacuna tremenda no que diz respeito à promoção da cultura nas nossas comunidades. A inexistência de condições que facilitariam o acesso ao ensino e aprendizagem nessas áreas, é um fator que igualmente não nos engrandece enquanto município com a sua história e características próprias.

Ainda não se deram conta da necessidade de uma casa cultural que nos permita estudar e conhecer melhor a tabanca, o funaná e o batuque? Não se deram conta de que faz falta um atelier de artes plásticas para que hajam mais Helders Cardoso? Não sentem a falta, GRITANTE, que faz uma biblioteca municipal com bibliografias diversas, que despertem nas nossas criancinhas e na população em geral o gosto pela leitura? Ou de um espaço que, também, permitirá fazer-se pesquisas fidedignas, promovendo uma forte cultura académica e literária, incentivando a nossa afirmação no mundo das intelectualidades?

É muito difícil aceitar essa incompatibilidade de termos o craque Djaniny Semedo a brilhar no mundo do futebol, e ver a nossa juventude enfrentando a dura realidade da falta de condições para a prática do desporto nas localidades. Atividade essa que tando ajuda no bem-estar fico e mental, e que igualmente é geradora de rendimento para os mais afortunados na sua prática.

É lamentável o sufoco desportivo que se vive neste humilde território. Me pergunto (...) como é possível levar-se cerca de 20 anos para construir o tão prometido Estádio Municipal? Porquê tanta humilhação para os nossos atletas?

Alguém há de encontrar a bússola para orientar o nosso “capitão” administrativo, para evitar o naufrágio nessa navegação da municipalidade esculachada pelos (ir)responsáveis políticos. Porque eu me recuso a fazer parte da estatística daqueles que se esforçaram muito para estudar, com o intuito de impulsionar o desenvolvimento do concelho de Santa Cruz, e que infelizmente, sentiram-se obrigados a abandonar o lugar de nascença. E o resultado? Stress e frustrações. Muitos nem isso, pois acabaram por morrer na “Praia”.

Em alguma Laosa, alguém escreveu que “A oportunidade é Dada”, portanto, há pessoas legitimadas pelo povo para criarem oportunidades e DAR para os que estão arduamente à sua procura. Logo, é de urgência encontrar a bússola para orientar os legitimados para travar essa “despontencialização” das nossas potencialidades

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Redação