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Ressabiamentos, frustrações e conselhos
Colunista

Ressabiamentos, frustrações e conselhos

Começa a ficar enfadonho ter de aturar esta tentação professoral da parte do José Maria Neves que se sente qualificado e autorizado a dar lições ao actual governo.  Do alto da sua arrogância intelectual faz crer que ele é quem sabe tudo sobre as mais diversas áreas da governação e que tudo o que este governo tem feito não passa do lugar comum.

O José, o ex-primeiro-ministro, julga-se o conselheiro guia do actual primeiro-ministro, o outro José, que tem resolvido as heranças intrincadas deixadas pelo primeiro. Tal pretensão mostra que afinal o José, o de apelido Neves, gostaria de continuar como primeiro-ministro de Cabo Verde. Que desengane-se aqueles que acham que saiu por causa de outros projectos, pois só não se recandidatou porque tinha a clara noção que perderia as eleições. Por isso, entendeu por bem fazer uma sabática com o fito de reciclar a sua imagem, diga-se bastante desgastada, a ver se volta, em 2021, sem as máculas deixadas pelos 15 anos da sua (des)governação.

O José, o derrotado, pelo tempo volvido desde as últimas eleições legislativas, já devia ter adquirido a compreensão das razões que fizeram o MpD ganhar as eleições. Mas, não. A sua prepotência e arrogância intelectual, bem como o crónico narcisismo de que padece não lhe permite libertar da ignorância, continuando mergulhado numa realidade que só existe na sua cabeça coberta de cabelos brancos, mas, quiçá, não tanta madura como aparenta, crendo nada ter a ver com a derrota do PAICV. Teima em não ver que o PAICV perdeu as eleições de 20 de Março de 2016, sobretudo em razão das políticas engendradas pelo seu governo que não resultaram em felicidade para os cabo-verdianos e, também, por estes terem decidido dizer basta as manobras eleitorais do PAICV do José que apostava na gestão interesseira da pobreza dos cabo-verdianos, isto é, na manutenção da franja mais desfavorecida da sociedade em situação de fragilidade para na altura das eleições ser acudida com prebendas primárias de muito mau gosto em troca de favores eleitorais. Os cabo-verdianos cansaram de serem manipulados com promessas como a introdução do 13º mês na administração pública que se revelou uma exploração indigna da expectativa dos agentes da administração pública, um insulto à inteligência deste povo humilde, mas não ingénuo, e um autêntico gozo com a dignidade das pessoas.

Mas o José, o das poesias, impávido e sereno, valendo do facebook, vai distribuindo, dia sim dia não, ensinamentos ao governo do José Ulisses Correia e Silva, sem dar conta que se está a vulgarizar-se sobremaneira.

Mas José, se és tão bom como fazes crer, sabedor de todas as coisas e detentor das melhores ideias, porque deixaste Cabo Verde no estado em que o deixaste? Pois, esta é a questão que não quer calar. Devo muito sinteticamente lembrar ao José, o das camisas de "pano di terra", que deixou um país cuja economia não crescia, com uma elevada dívida pública, com empresas públicas tecnicamente falidas e sorvedouras dos recursos do erário, desemprego a campear a solta, com batalhões e mais batalhões de jovens no desemprego e sem perspectivas do futuro, insegurança a atingir níveis inadmissíveis, com a máquina da administração pública imperada pela excessiva partidarização, com o nepotismo, a corrupção e outros vícios a atingirem patamares preocupantes nunca dantes vistos.  

Por ter deixado o país como deixou e tendo o MpD ganho as eleições seria de bom tom respeitar a vontade popular. Pois, que deixe o actual governo trabalhar, realizar o seu programa de governo que é para a legislatura, isto é, 5 anos e confiar no discernimento do povo cabo-verdiano que em 2021 voltará a ser chamado para avaliar o executivo do José Ulisses Correia e Silva e dar o seu veredito.

Mas, o José, aquele que chamou os cabo-verdianos de "burro na ladera", em face do seu projecto presidencial, tem-se sentido sobejamente incomodado com o bom desempenho do governo do Ulisses Correia e Silva. Pois, com os anos de estrada da politica que já tem sabe e bem que o sucesso deste governo é sinónimo de um MpD forte em 2021 e que um MpD na sua máxima força fará, com certeza, gorar o seu projecto presidencial, ademais quando o seu partido tarda em encontrar o rumo certo e a tão ansiada coesão interna, continuando um manto de retalhos com vários francos atiradores, cada um atirando a seu bel prazer na direcção que lhe aprouver.

Como vinha dizendo os ganhos do governo do José Ulisses Correia e Silva parece que tem tirado o sono ao José de Pedra Barro. Por exemplo, percebe-se nas entrelinhas das suas mensagens que a actual capacidade diplomática e a nova intensidade que se impôs a esta vertente da nossa política externa pelo governo do José Ulisses Correia e Silva é uma novidade que poderá estar na base do ressabiamento demonstrado nas opiniões expressas pelo José que em tempos, enquanto primeiro-ministro, quis reuir com os THUG's. O governo do Ulisses Correia e Silva apostou em Embaixadores seniores como Carlos Veiga, José Filomeno e Eurico Monteiro, colocando-os em postos diplomáticos chaves para os nossos interesses. O PAICV numa estratégia de baixa política tentou explorar o facto de dois deles não serem diplomatas de carreira. Mas, hoje é evidente que estão a apresentar resultados que confirmam que foram escolhas acertadas. A mobilização dos recursos financeiros para fazer face à seca que este ano abateu sobre o nosso torrão de forma violenta foi o que deu mote para a última publicação do José no facebook. Tentou desvalorizar o excelente trabalho do governo, em particular do Ministro Luís Filipe Tavares  e do Embaixador José Filomeno Monteiro, e não reconhece o bom momento da nossa diplomacia e da nossa relação com o mundo. 

O José, o das intrigas sobre a morte do Cabral, e o seu governo cansados e sem ideias estiveram em contra-mão com os princípios diplomáticos ao ponto de ter entrado em altercação com alguns dos nossos parceiros internacionais pela simples razão destes, em tempo certo, virem que o rumo do país não era o mais certo. Escusado será, por exemplo, lembrar o caso com o Embaixador da União Europeia, Pinto Teixeira.

Sem pretender ser o José dos aconselhamentos , para terminar, aconselho ao José que aprenda a lidar melhor com as suas frustrações, bem como com o sucesso dos outros e que guarde as suas energias para as presidenciais e que não comece aos tiros antes do tempo, pois a pressa é inimiga da perfeição. Ademais, ainda, lembrar ao José que os ressabiados não costumam ser bons conselheiros e que  no seu e no nosso Cabo Verde não está tudo louco como afirmou na sua publicação no facebook, mas sim que existem uns poucos a se fazerem de loucos, num bom crioulo "ta da pa dodu", a ver se as suas mensagens passam.

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Redação