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A herança nevista
Colunista

A herança nevista

Olá, José, como estás? Acreditamos que estás bem em parte incerta, quiçá, nas terras lusas cuidando da tua formação académica e esperamos que venhas muito melhor formado para, se um dia voltares a servir este país, o faças melhor do que fizeste na década e meia, de 2001 a 2016, em que lideraste, em que lideraste a governação destes dez grãozinhos de terra plantados no meio do mar aos quais deixaste um legado pouco abonatório.

Olha José, estamos com saudades tuas. Pois, depois de uma repentina aparição, com publicações regulares no Facebook, fazendo crer que voltaste para o júbilo dos teus fãs, afinal, eclipsaste novamente e deixaste os teus acólitos desorientados a deitar espuma pela boca de todas as vezes que se fala da tua herança.

Onde estás, José? Aparece e diz-nos se sim ou se não, se não deixaste ao país uma pesada herança? Acredito, José, que, agora, longe das lides partidárias e mais imbuído nas académicas, já tiveste tempo para fazer uma apurada reflexão sem pendor partidário e que estás em condições de assumir os teus erros, penitenciando pelos teus pecados, que não são poucos, diga-se.

Diz-nos, José, se foi ou não um erro não teres privatizado os TACV durante os longos 15 anos em que dirigiste o país? Diz-nos, José, o que foi feito do financiamento do Banco Mundial para a reestruturação e privatização dos TACV? Serviu apenas para alimentar os boys do PAICV e produzir alguns estudos para encher as gavetas e os arquivos? E o nosso avião que sem dó nem piedade deixaste ser arrestado, José! Estás ciente dos danos morais que causaste ao orgulho nacional, para além dos de ordem financeira que a apreensão do nosso avião representou? Explica lá, se faz favor, José, com muita calma, tudo isto à tua sucessora na liderança do PAICV, pois, a Janira parece não entender que erraste em muitas decisões, nomeadamente no que aos TACV tange, e todos os dias ela empurra o Julião para os microfones e para as câmaras de televisão para contar estórias da Carochinha e do “Lobo cu Xibinho” nas quais já nem as criancinhas acreditam.

José diga-nos, por favor, se a Janira não é co-responsavel desta estrondosa herança que hoje pende sobre as costas de todos os cabo-verdianos. Ela esteve contigo, alimentou as bases tambarinas com os recursos do Estado e sustentou as associações camaradas, num nepotismo nunca dantes visto em Cabo Verde. E tu José, mudo e quedo, permitiste tudo isto. Permitiste mais, José. Sim, hoje, conhecemos o esquema da fraude eleitoral tambarina, liderado por um dos altos dirigentes do PAICV, que, com certeza, com o teu aval, quiçá, em jeito de pagamento, forçaste o teu partido a aceitá-lo como candidato presidencial que muito deu que falar no seio do PAICV, que até hoje, ainda, está por recompor-se de tamanha divisão que tal decisão gerou.

A base do PAICV está frenética e nervosa e crispa sempre que se fala da tua herança como se ela não existisse. Pois, a palavra herança tornou-se proibida aos ouvidos dos tambarinas, que tardam a perceber e a entender que quando se fala da herança se está a contextualizar a realidade encontrada, que, verdade seja dita, José, por mais que tentas escamoteá-la, põe sempre a descoberto as mazelas da tua governação.

Porque não dizes às tuas gentes, José, que este governo está a fazer muito do que não fizeste e que devias ter feito? E que, sobretudo, está a corrigir muito dos erros grosseiros que foram cometidos durante a tua governação. Conta-lhes tudo, José. Porque eu sei que tu sabes, José, que o outro José, o Correia e Silva, tudo está a fazer para desengatilhar o país das maroscas que deixaste.

Sabes muito bem que deixaste o país metido num grande trinta e um: TACV, Casa para Todos, Novo Banco, Fast Ferry, dívidas às organizações internacionais, crescimento económico quase zero, taxa de desemprego a campear sem controlo, segurança nas ruas da amargura, administração pública incompetente e partidarizada, etc,. São apenas alguns exemplos e para completar tinhas os investidores externos quase a desacreditar em Cabo Verde e os parceiros internacionais zangados com o rumo da tua governação. Ademais, José, prometeste muito e fizeste pouco, pois prometeste e não cumpriste com o décimo terceiro mês aos funcionários públicos, com o crescimento económico a dois dígitos, com a taxa de desemprego abaixo de dois dígitos, com os barcos rápidos para interligar as Ilhas em 24 horas, com os helicópteros para servir a Ilha da Brava, com a distribuição de 150 mil computadores no âmbito do programa “Mundo Novo”, com o porto de águas profundas em São Vicente, etc.

Tudo isso fez o PAICV perder as eleições em 2016, mas os seus zelosos e fanáticos adeptos querem renegar e anular a herança, apostando numa narrativa centrada numa pseudo-incapacidade do actual governo em encontrar soluções para o país. Soluções existem, estão identificadas e nelas se está a trabalhar, mas, José, convido-te a fazer um desenho aos comentadores de serviço do PAICV nas redes sociais para que possam compreender duas coisas: primeiro que não existem soluções milagrosas e que nunca foi prometido libertar Cabo Verde das tuas heranças em dois dias e, em segundo lugar, que a legislatura é de cinco anos e que o compromisso firmado é para ser cumprido ao longo do mandato.

O MpD será julgado em 2021, por isso, José, fala com a Janira para ter calma, para poupar o Julião Varela e o Rui Semedo, e para trabalhar no sentido de construir uma oposição que seja credível para que possa, de facto, se posicionar como alternativa porque, senão, José, é o teu futuro que ficará comprometido, pois, com um PAICV fraco e à deriva, a tua pretensão de ser Presidente da República esfumar-se-á à nascença.

Bem, José, já me alonguei por demais, mas não queria terminar sem antes pedir-te para apareceres um dia destes, pois, como disse no início, temos saudades tuas, mas, quando optares por aparecer, fala a verdade aos cabo-verdianos, vem com humildade e aproveita a ocasião para parabenizar o atual primeiro-ministro, o teu xará, o teu homónimo, pelo excelente trabalho que ele e a sua equipa têm feito.

As fábulas, as tuas, as dos outros, deves contá-las às criancinhas do PAICV. Já és crescido, José, e pelos teus cabelos brancos e pelas funções de responsabilidade que já desempenhaste, não te deixas resvalar para o lugar-comum que tomou conta do teu PAICV. Sejas líder e digas aos teus seguidores que as tuas heranças não são imaginações maquiavélicas, mas sim realidades factíveis, mas que acreditas e para que também eles acreditem que serão resolvidas pelo governo do MpD que tem mostrado que é capaz e que está a altura dos desafios do país.

* Emanuel Barbosa

Deputado Nacional do MpD pelo círculo da Europa

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Emanuel Barbosa