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Futebol em Santiago. Que destino?...
Colunista

Futebol em Santiago. Que destino?...

Por não ser bom entendedor da área e, tão pouco, frequentador assíduo do Kampu Grandi (como o praiense de antes da independência gosta de designar o Estádio da Várzea), não vou discorrer muito sobre o futebol santiaguense, mas sim, como sempre, traçar adiante, em poucas linhas, um diagnóstico síntese e, em poucas alíneas, algumas propostas de melhorias.

Entendo que as condições de desenvolvimento do futebol em Santiago não estão ao nível satisfatório que o potencial e histórico da ilha merecem. As carências que caraterizam essas condições têm a ver com infraestruturas centrais sobre-utilizadas (caso do estádio da várzea onde são relatadas lesões por causa da relva atual, ausência de placard como caso único no mundo etc!) e/ou eternamente inacabadas e mal apetrechadas (no Santiago Norte sobretudo), ausência de uma massa crítica de pessoal dirigente e de formação com grau técnico-científico e académico relevantes para apoiar e capacitar a organização, o desenvolvimento/evolução e modernização para um futebol mais competitivo e ausência de mecanismos sustentáveis de financiamento dessa modalidade desportiva.

Recomendo o seguinte:

- Propor, para financiamento da FIFA, um estádio de referência em Santiago Norte. A razão desta proposta - a região desportiva ser a eleita por C.Verde e ser submetida junto da FIFA para receber esse financiamento - que a essa instituição anunciou recentemente no sentido de cada país africano receber da dela um estádio referência, tem a ver com o facto de ST Norte deter a maior região desportiva do país (incluindo a vertente futebol), ter as mais fracas condições organizacionais, logísticas e financeira para suportar o sistema e ser aquela que mais dificuldades tem experimentado para organizar provas (este ano não foge á regra e até hoje o campeonato da época 2019-2020, aí não arrancou). Para além disso todas as outras principais regiões já tiveram apoio da FIFA para qualificação de estádio.

- O governo e os municípios de Santiago devem estruturar uma medida de discriminação positiva como se vem fazendo em relação a outras atividades e a outras ilhas, para garantir, por cinco anos pelos menos, o apoio necessário para a operação do campeonato de futebol de Santiago Norte, na condição de Santiago Norte preparar um plano autónomo de uma operação sustentável de campeonatos de futebol, logo após o término dos cinco anos de apoio das entidades do Estado;

- Estruturar qualificação de mais dois estádios para provas oficiais de futebol na Praia, de preferência da Praia Ocidental (Pensamento) e Praia Oriental (Achada Grande) para não só compatibilizar a oferta á extrema demanda atual como também para diminuir o sobre uso insustentável do atual estádio da Várzea que, deve urgentemente, pelo péssimo estado atual, fechar-se para obras devendo-se qualificar o balneário, colocar a placa eletrónica e cobertura das atuais bancadas descobertas, instalar nova relva tolerada pela FIFA e placas de publicidade modernas (será bom para as finanças de gestão do estádio) e embelezar toda a envolvente (estes são alguns elementos meus do caderno de encargos);

- Quem de direito (vereações e departamentos do governo), apoiar formação e atração de quadros competentes para gestão e formação no setor futebolístico de Santiago;

- Estruturar fundos e condições logístico-infraestruturais e técnicas a favor das escolas de futebol para que, instituições como EPIF, possam continuar as produzir parte importantes dos melhores futebolistas nacionais;

- O governo concluir os apoios que atribuem para a conclusão das obras dos estádios em Santiago Norte e atribuir a sua parte para a qualificação dos dois estádios complementares em S. Pensamento e Achada Grande;

- O governo e as câmaras municipais apoiar a estruturação de legislação para a criação de sociedades desportivas para que os clubes em Santiago funcionem em bases empresariais e profissionais como alguns clubes fazem mas ainda em formas incipientes e informais; há que alterar a situação em que os presidentes dos clubes quase que solitariamente sacrificam a sua vida e bens para apoiar e sustentar clubes com um ou dois patrocinadores!

- Pensar-se numa possível regionalização dos clubes praienses de futebol, ou seja, uma maior titularização por parte dos bairros das equipas do futebol da Praia. Confesso que é uma ideia de consenso muito surreal (eu por exemplo vejo complicado acabar-se com a minha académica para se criar Futebol Clube Plateaueses, até porque essa equipa já não tem nenhuma pessoa do plateau ou, como requisito, ser estudante). O mesmo se aplica a Travadores, Sporting, Boavista, Vitória, Celtic…

Mas confesso igualmente que, se tivéssemos mais «Tchadenses» Delta ASAs, Ribeira Grandes e Eugénio Limas, teríamos mais espetadores afetos, mais financiamentos locais orientados para os seus times, mais recursos humanos/dirigentes engajados aos respetivos clubes, muito mais brio dos afetos nos estádios e melhores performances dos desportistas. Uma proposta a pensar.

Pode-se não acabar com Académica mas evoluir, por exemplo, para académica da Praia Central ( com pelo menos metade do plantel naturais/identificados e com sede no Plateau, zonas envolventes da Fazenda, Taiti e Praia Negra), Achadinhenses, Celtic ou Bairro da Praia Ocidental (metade naturais de Achadinhas Baixo e Cima, Bairro e Eugénio Lima e Bairro, Terra Branca e zonas adjacentes), Travadores ou Tchadenses da Praia Sul(ASA e Palmarejo), Delta Praia Oriental (AG Frente …) Vilanovenses (Praia Norte) etc de acordo com o Plano Diretor Municipal que prevê, para os próximos 10 anos estruturar cinco «novas cidades», Praia norte, sul, oriental, ocidental e central.

Como menciona acima os times podem não ter todos os jogadores da região mas tem-nos pelo menos a metade para garantir as tais caraterísticas e vantagens da fidelidade dos locais e torcedores em geral.

É preciso realçar que ao futebol santiaguense falta sobretudo o amor, o bem querer que o resto de C.Verde patenteia aos seus e nós não tanto. Recordo a todos o facto de ninguém ter ido ao encontro da seleção de Santiago no aeroporto quando, uma vez mais, foi campeão inter-ilhas, facto que fui o único a presenciar (digo-o com revolta e não com qualquer outro sentimento) e a dinamizar a comunicação social para o ato. Parabenizo, entretanto, a CMP o Governo e todos os que têm homenageado os nossos campeões, constituindo exemplo para muitos de nós em Santiago que têm comportado com indiferença, inclusive com relação a vários outros processos de desenvolvimento da ilha, nomeadamente, nos setores do mar, turismo, ordenamento e habitação social (na Praia especialmente), agronegócios, energia, indústria...

Façam como alguns cidadãos/associações de Santiago Norte por exemplo que, finalmente, disseram basta no setor do mar retomando a história/ o pergaminho de Santiago no shipping mundial!

Praia, Fevereiro de 2020

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Redação