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Black Panther. Tributo a um continente possível
Colunista

Black Panther. Tributo a um continente possível

Depois de uma tentativa frustrada e de quase desistir de entrar na corrida aos bilhetes, eis que consegui a minha passagem para Wakanda. Sentei-me desconfiada, pensando se valeria a pena tanto trabalho para ver um filme. Ainda mais que a promessa de acção e super-héróis não me atraia muito.

Mas pisar em Wakanda (sim, porque é assim que a autenticidade dos efeitos nos fazem sentir) foi viajar no futuro, ou talvez, quem sabe, num passado de muitos milénios, quando África era terra de impérios pulsantes, magníficos e majestosos.

O destino é um reino africano nunca colonizado, que usou a sua melhor arma não para dominar outros, mas para criar soluções e harmonia para o seu povo. Mas que tem de esconder a sua verdadeira face para se proteger das ambições e interesses ocidentais.

As magníficas cascatas de Wakanda, os vales sem fins, as cadeias montanhosas que parecem rasgar os céus e descer até as profundezas da terra, lembram-nos uma África exuberante.

As suas torres, naves e gagets mostram-nos um futuro possível se os recursos naturais forem usados a bem das nações africana. 

Em Wakanda se juntam tradição e tecnologia, passado e presente, realidade e a ficção. A natureza, a riqueza, os rituais, a diversidade e o conhecimento. A película valoriza as crenças e tradições do continente negro. Mostra que a sabedoria é milenar e que tecnologia não exclui ancestralidade.

Wakanda é também uma terra de contraste mas não os contrastes da África actual. Ali coexistem fatos futuristas com a realeza dos trajes africanos, torres gigantes com belas tabancas, planícies ricas e silenciosas com ruas cheias do comércio colorido e palpitante, que caracteriza várias capitais africanas fora das telas.                                                          

A viagem prossegue. A lenda de Wakanda nos chega embalada por uma banda sonora magnífica, estrelando o talento de músicos africanos e afrodescendentes.

Consta que o director musical do filme passou um mês no Senegal onde trabalhou lado a lado com o internacionalmente aclamado, Baaba Maal, que empresta a voz e o talento à trilha sonora da longa.

Os diálogos entram-nos pelos ouvidos adentro num inglês com sabor africano, intercalado com frases em isiXhosa, língua falada em algumas regiões da África do Sul, que tem entre os seus ilustres falantes nativos o grande Nelson Mandela.

Uma combinção de elementos que despertam em nós uma alegre nostalgia de uma terra onde nunca estivemos, mas que ao mesmo tempo é-nos completamente familiar. Um lugar onde gostaríamos de ficar mais tempo seduzidos pelas exuberância deste reino de sonhos.

Entre os confrontos de heróis e vilões, várias mensagens subjacentes vêem ao de cima.

A subjugação actual dos africanos dentro e fora do continente, os estereótipos e a desinformação dos quais o continente é ainda hoje vítima, os dilemas de lideranças, os conflitos de geração, a gestão das riquezas e os confrontos numa África alvo de interesses cruzados.

O filme dominou o cartaz da cidade durante este mês de Março e nele não faltam exemplos de mulheres sábias e audaciosas, como tantas que o continente já produziu.

Black Panther faz-nos reflectir, sonhar, projectar. Por isso ficamos colados ao ecrã, mesmo depois de a ficha técnica começar a subir... idealizando o sonho possível de uma África promissora.

“Wakanda Forever!”

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SOBRE O AUTOR

Karina Moreira