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Seca. Mundo rural clama por socorro!
Editorial

Seca. Mundo rural clama por socorro!

Março está no fim. Abril já vem com pressa. E as respostas não chegam. As famílias rurais precisam de apoio. E clamam por socorro. Que seja em forma de emprego público ou outra coisa qualquer! Falta pão. Falta água. Falta paz. 

Os efeitos da seca são mais sentidos no mundo rural. Em todas as partes do mundo, mormente em Cabo Verde. Aqui, quando não chove, as culturas de sequeiro ficam pelo caminho, e, em muitas regiões, a faina agrícola não passa sequer das cimenteiras. Os campos de regadio também sofrem, com a redução do caudal de água e a proliferação de pragas, associada ao descaso das autoridades públicas.

Há dois anos que falta chuva no arquipélago. O ano passado foi uma seca severa. Este ano, caiu alguma chuva, mas a colheita ficou muito aquém do esperado, não cobrindo 10 por cento do potencial agrícola do arquipélago.

Os campos estão secos. As hortas de regadio estão a reduzir todos os dias. Sobretudo em Santiago. Com a falta de água, não há jeito mesmo. Ademais, as pragas consumiram as produções, sobretudo as papaieiras, as mais fustigadas pelos bichos. Os agricultores protestaram, clamaram, pediram, mas ninguém os ouviu. Ninguém os acudiu. E, quando já pouco restava das hortas, aparece o ministro da Agricultura a prometer, na TCV, que em uma semana as pragas seriam exterminadas.

Parece anedota, mas é verdade. O Ministério da Agricultura não tem respondido ao clamor dos homens do campo. Isto é um facto. Basta uma pequena ronda pelo interior do país, sobretudo para o interior da ilha de Santiago, a mais agrícola de todas, para se aferir da veracidade ou não desta afirmação.

Os campos estão abandonados. Nota-se a ausência efetiva de uma política de água para a agricultura. Se existe, não está sendo implementada, e é desconhecida dos homens do campo. O governo aparece em momentos de maior aflição para botar discursos e exaltar os ânimos mais afoitos. E, enquanto o governo fala, os campos vão se definhando aos olhos de todos, assassinando anos de investimentos, de esperanças e de sonhos.

São muitas e variadas as demandas dos agricultores e do mundo rural em todo o país. Mas as respostas nunca chegam. O governo fala, promete e informa, mas não passa disso. Neste momento, por exemplo, os agricultores questionam onde foram parar os 10 milhões de dólares que o governo disse ter arrecadado junto da comunidade internacional para mitigar os efeitos da seca?

Este anúncio foi feito pelo primeiro ministro, Ulisses Correia e Silva, em plena sessão parlamentar. E questionam porquê? É que efetivamente não viram os investimentos que o governo prometeu realizar com aquele dinheiro. A mobilização da água não aconteceu, o salvamento de gado não passou de pequenos créditos para poucos criadores, os vales cheques até ainda enfeitam as estantes de muitas famílias rurais, e os empregos públicos não passaram de 90 dias de trabalho, com salários a metade do fixado como mínimo. Isto no ano passado.

Para o ano em curso a situação se afigura bem pior. Março está no fim. Abril já vem com pressa. É o arranque do segundo trimestre do ano. Do emprego público, nem sinal, apesar do anúncio do governo em como terá já conseguido 600 mil contos para socorrer as famílias do campo. Um montante que, sendo pouco para a demanda do emprego, sempre há de ajudar na mitigação da fome em muitas mesas no interior das ilhas.

O povo do interior das ilhas clama por ajuda. O mundo rural clama por socorro. Que seja em forma de emprego público ou outra coisa qualquer. Diz-se por aí que o programa, já anunciado pelo governo desde dezembro do ano passado, poderá arrancar aqui em abril. Tarde, mas sempre há de servir para massagear um pouco a fome que neste momento é um facto indesmentível no seio das famílias do mundo rural, onde vive o maior número de cabo-verdianos.

Regista-se, a título de exemplo, que só no mundo rural de Santiago, vivem perto de 150 mil almas, com prevalência para jovens e crianças.

Se as governações não tratam as pessoas como o centro dos seus programas e projetos, então é porque algo vai mal e torna-se necessário e urgente rever a matéria, para alinhar os passos, as ações e os atos.

O mundo rural clama, sim, por socorro!

A direção

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