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A imortalidade em tempos de pandemia. Apontamentos avulsos de um confinado por mor da vigente situação de calamidade pública sanitária
Cultura

A imortalidade em tempos de pandemia. Apontamentos avulsos de um confinado por mor da vigente situação de calamidade pública sanitária

OITAVAS E DERRADEIRAS ANOTAÇÕES PARA A HONRA E A GLÓRIA DE ALGUNS VERDADEIROS E AUTÊNTICOS MORTOS IMORTAIS NOSSOS, DO POVO DAS ILHAS E DIÁSPORAS, COM ENLEVADA, SE BEM QUE SINTETIZADA, REMEMORAÇÃO DE OUTROS MAIÚSCULOS (RE) CRIADORES E (RE) INVENTORES DO NOSSO MUNDO CABOVERDIANO, AINDA E PARA TODO O SEMPRE DO POVO DAS ILHAS E DIÁSPORAS

SECÇÃO PRIMEIRA

DOS MUITOS MODOS DE ENALTECER E HOMENAGEAR, COM DIGNIDADE E HONRAS DE ESTADO, A OBRA, O LEGADO E A MEMÓRIA DE FELISBERTO VIEIRA LOPES, CELEBRIZADO COMO KAOBERDIANO DAMBARÁ, E CARLOS ALBERTO LOPES BARBOSA, MAIS CONHECIDO PELO NOMINHO, PELO PSEUDÓNIMO LITERÁRIO E PELO NOME ARTÍSTICO KAKÁ BARBOZA

      

    Como anteriormente aludido, não sabemos se a rememoração destes tempos nossos contemporâneos da pandemia do novo coronavírus (sars-cov-2) e da covid-19, e prometida de forma quase solene por Germano Almeida ainda no dealbar no solo das ilhas dessa global desgraça que ainda transcorre, se farão presentes, num futuro que se crê assaz próximo, se não já em vias de acontecer, em forma de Memórias de um Espírito (seja ele um Fiel Defunto, ou não, tal um atraiçoado Ouvidor do Reino executado por um Morgado, Oligarca e Mandarim da insurrecta ilha de Santiago de Cabo Verde, ou um armadilhado advogado enredado em gases envenenados inoculados, também por via respiratória, tal o invisível novo coronavírus (sars-cov-2), na calada da noite por assassinos contratados a peso de ouro dos terrenos traficados), de testamento de um qualquer escritor à cata de celebridade e imortalidade, de estória de dentro do confinamento islenho, variegado mas sonhando sempre com os areais da Prainha e das praias de Quebra-Canela, da Laginha, de Santa Mónica, de Santa Maria, do Tarrafal ou de Escurraletes, ou de nova Viagem pela História das Ilhas e das suas muitas e recorrentes situações de calamidade pública, independentemente, é claro, da sua tradução e transfiguração jurídico-formais em estado de emergência ou em estado de calamidade.                

   Ousamos todavia pensar e dizer que essa vindoura Rememoração Destes Tempos Nossos Contemporâneos e Contemporâneos da Pandemia da Covid-19 serão certamente, e sempre, e para além do mais, outras Memórias de um Espírito, espera-se e almeja-se que de um Espírito Grande no sentido e com o valor semântico pleno de uma Alma Grande e Solidária como a do enorme escritor e aventureiro chileno Luís Sepúlveda ou do grande contista brasileiro Sérgio Sant´Anna, ou da escritora amiga Maria Velho da Costa (também galardoada com o Prémio Camões e, ademais e para nosso benefício directo, durante alguns anos Conselheira Cultural na Embaixada de Portugal na Cidade da Praia), ou, quiçá, de outros Criadores Artísticos de idêntico quilate e/ou de Homens de Cultura de comparável envergadura, mesmo que laborando em e com outras artes, como o músico Manu Dibango, dos Camarões, o músico Mory Kanté, da Guiné- Conacry, o músico italiano Ennio Morricone, o filósofo e esteta da Itália e do Mundo, Umberto Eco, as mais recentes e ensurdecedoras vítimas do racismo endémico anti-negro Georges Floyd e Bruno Candé Marques, ou ainda o senador norte-americano John Lewis, discípulo e companheiro de Martin Luther King e um dos Seis Grandes Combatentes Pacifistas do Movimento pelos Direitos Cívicos dos Afro-Americanos, todos recentemente transladados para o mundo do nunca mais, alguns deles levados no silencioso e devastador sugador de vidas que são o sars-cov-2 e a sequente covid-19 ou, se não, pelo imenso silêncio que nestes tempos de pandemia envolveu o nosso planetário universo condenando a indescritível e indeclinável solidão o declínio de centenas de milhares de criaturas humanas e dos seus restos mortais, se bem que em todos os casos dos Mortos Imortais supra-referenciados significando o declínio do ser material devorado pelas vicissitudes da vida e da morte sempre a sua transfiguração para a imortalidade e a eternidade consubstanciadas na memória viva da obra sua legada para a posteridade. Ou, então, o Combatente da Liberdade da Pátria Honório Chantre Fortes, o mais recente Morto Imortal nosso, do povo das ilhas e diásporas, curiosamente sobrevivente de uma anterior epidemia, agora definitivamente levado para o mundo do nunca mais nestes tempos de pandemia do novo coronavírus (sars-cov-2) e da covid-19. Também curiosamente, partilha o Comandantte Honório Chantre Fortes um aspecto biográfico comum com os nossos dois Prémios Camões: o serviço militar obrigatório e a sua mobilização para a guerra colonial de Angola (aspecto biográfico também partilhado com dezenas, se não centenas, de jovens mancebos caboverdianos mobilizados para as gueras de Angola, da Guiné dita portuguesa e de Moçambique, uma história a merecer a atenção do jornalista/historiador/grande repórter José Vicente Lopes). Anteriormente mobilizado para a causa da independência nacional por Abílio Duarte, aquando da sua estada no Liceu Gil Eanes enquanto enviado de Amílcar Cabral e do PAIGC disfarçado de aluno do Terceiro Ciclo dos Liceus, Honório Chantre Fortes tinha sido muito marcado pelas mortandades pela fome na sua ilha natal de Santo Antão e pelo embarque no Porto Grande de São Vicente dos serviçais caboverdianos para as roças de São Tomé e Príncipe. Na primeira oportunidade, deserta do exército colonial de ocupação, passando para o vizinho Congo Kinshasa, onde é recebido e acolhido por Jonas Savimbi, então Ministro dos Negócios Estrangeiros do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio), de Holden Roberto, e de onde vai ter com Amílcar Cabral em Concry, contribuindo assim para o reforço das fileiras dos combatentes caboverdianos no seio do PAIGC. Enquadrado no contingente dos combatentes caboverdianos que deveriam iniciar a luta armada em Cabo Verde, no âmbito da muito esperada operação de desembarque de combatentes caboverdianos pensada primeiramente para acontecer nas ilhas de Santo Antão e Santiago e, depois, somente nesta última ilha, e baptizado com o nome Operação Esperança, e, por isso mesmo, receberam a devida preparação político-militar na Argélia, na União Soviética e em Cuba, Honório Chantre Fortes foi um proeminente comandante militar na luta armada conduzida pelo PAIGC na Guiné-Bissau, adiada e temporariamente abortada que fora a Operação Esperança, acima referida, em razão da morte em combate do guerrilheiro heróico Ernesto Che Guevara e a traição e denúncia à famigerada PIDE/DGS de toda a operação e dos seus eventuais protagonistas por um dos combatentes recrutados e mobilizados para a instrução político-militar em Cuba, o doravante famoso Bibino, também originário da sua inconformista ilha de Santo Antão. Será que Arménio Vieira e Germano Almeida, ambos mobilizados para a guerra colonial portuguesa de Angola, alguma vez pensaram em desertar do exército colonial-fascista para reforçar as hostes político-miltares do PAIGC como dantes tinham feito Silvino da Luz, Honório Chantre Fortes e Joaquim Pedro Silva, dito Barô? Certamente que essa cogitação deve ter sido assídua na cabeça e na alma de Arménio Vieira, ele que tinha integrado, nos princípios dos anos sessenta, a primeira leva de presos políticos caboverdianos encarcerados na Cadeia Civil da Praia, acusados de serem contra a nação, tinha ademais sido um hóspede da prisão da tristemente célebre prisão/caserna do Penamacor, em Portugal, e, bastas vezes, tinha procurado as vias para dar o salto desertor para além dos Pirenéus, antes da sua mobilização como soldado raso para a guerra de Angola… E, quiçá, também de Germano Almeida, ciente que devia estar da profunda injustiça da situação colonial, ademais vivenciada in loco das mais gritantes e atrozes discriminações possíveis contra os africanos…

   Ou, se se preferir (ou, melhor dito, em inequívoca preferência minha), igualmente de Almas Grandes e Grandes Espíritos nossos, nados e criados nas ilhas, sempre com o olhar e o gesto fraternos disseminados, curiosos, minuciosos e atentos, pelo mundo nosso, do povo das ilhas e diásporas, e pelo mundo largo de toda a Humanidade, como foram consabidamente os casos de Felisberto Vieira Lopes e Carlos Alberto Lopes Barbosa, também muito celebrizados, como já anteriormente aventado, pelos nomes/nominhos /nomes de guerra/ pseudónimos/ nomes literários e artísticos com que assinaram e assumiram as suas inesquecíveis e sumamente marcantes obras literárias e/ou musicais, ou simplesmente humanas, assim edificando nestes tempos nossos de agora, rememorativos dos heróicos tempos de outrora, tão nostalgicamente recordados por Mário Fonseca, a sua presente imortalidade, sempre indemne aos infaustos tempos da pandemia e dos seus augúrios de medo e de morte.

Tal como curiosamente ocorre com parte importante dos escritores e autores caboverdianos, muitos dos quais expressamente referenciados ao longo dos presentes Apontamentos e Anotações, foram bilingues os dois escritores/ autores agora aqui evocados em homenagem e para a honra e a glória das suas doravante imperecíveis memórias:

  1. a) Felisberto Vieira Lopes, autenticando, por um lado, com o nome de guerra/ pseudónimo literário Kaoberdiano Dambará a sua obra poética fundadora da poesia caboverdiana da afrocrioulitude (também por nós anteriormente denominada, e em primeiríssima mão devidamente plagiada, poesia caboverdiana da negritude crioula) e constante do memorável livro de poemas de capa preta, ilustrado por um archote ardendo flamejante, com o nome de guerra/nome de clandestinidade política/pseudónimo literário do autor e o título da obra em contraste branco sugestiva e antinomicamente intitulado Noti, e, por outro lado, assinando com o nome próprio de igreja e de registo civil oficial as suas alegações e as suas outras peças processuais (incluindo as muitas em defesa de presos políticos caboverdianos, e não só, do regime colonial-fascista português, tendo ele também sido, com Arlindo Vicente Silva e David Hopffer Almada, um dos três advogados antifascistas e anticolonialistas presentes no memorável acto de libertação dos presos políticos do Campo de Concentração do Tarrafal no inesquecível e histórico dia 1 de Maio de 1974), os desassombrados ensaios (por vezes também assinados com o pseudónimo W. Masai), os artigos de opinião e colunas em jornais de destemido cidadão critico de todos os regimes e governos pós-coloniais do Cabo Verde independente e soberano, de abalizado advogado e cultor eruditíssimo da língua portuguesa.
  2. b) Carlos Alberto Lopes Barbosa, assinando predominantemente (se não quase exclusivamente) com o nominho/nome artístico/pseudónimo literário Kaká Barboza tanto a sua valiosa obra lavrada na língua caboverdiana que ele tanto amou, cultivou, inovou e engrandeceu, e constante dos livros de poemas Vinti Xintido Letrado na Kriolo (de 1984), Son di ViraSon (de 1996) e Konfison na Finata (de 2003), como também a sua importante obra vazada em língua portuguesa, que ele vinha cultivando com cada vez mais visível prazer e com maior e mais aprofundada proficiência linguística e literária, desde a sua estreia, no ano de 2001, na poesia de língua portuguesa com o livro Terramaiamo, particularmente na sua dimensão de poeta lusógrafo amante e cultor de níveis de linguagem pretendidos assaz elevados e de contista telúrico laborioso, sempre em singular e íntima comunhão com a terra caboverdiana, a sua terra eleita, e com o homem crioulo das ilhas, e que ficaram lavradas nos livros de poemas Terramaiamo (de 2001), Gaveta Branca (de 2014) e Caminhos Cantantes-Terra Eleita (de 2018) e em livros de contos assaz belos como o bilingue Cântico às Tradições e o lusógrafo Descantes da Minha Ribeira (de 2019), exceptuando-se dessa regra de oiro na assinatura da obra literária e musical com o nome que se tornou a marca Kaká Barboza o seu primeiro livro de poemas em português, atribuído (quiçá circunstancialmente) ao seu provavelmente efémero e arabizante nome literário Albely Bakar.

 

PARÁGRAFO ÚNICO, ONDE, EVOCANDO- SE OS DOIS GRANDES DAS LETRAS PÁTRIAS CABOVERDIANAS ACABADOS DE NOMEAR, SE PROPÕE A SUA DEFINITIVA E INDUBITÁVEL IMORTALIZAÇÃO POR VIA DA SUA CONDECORAÇÃO A TÍTULO PÓSTUMO POR SUA EXCELÊNCIA, O SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE CABO VERDE, O TAMBÉM POETA E JURISTA DOUTOR JORGE CARLOS DE ALMEIDA FONSECA, COM AS MEDALHAS DE PRIMEIRA CLASSE DA ORDEM DO DRAGOEIRO, DA ORDEM DA LIBERDADE E/OU DA ORDEM AMÍLCAR CABRAL

É a esses dois Grandes da Literatura Caboverdiana acabados de nomear – acrescendo ao estatuto de poeta crioulógrafo de Kaoberdiano Dambará a respeitada condição de temível jurista e destemido advogado de Felisberto Vieira Lopes e ao de escritor bilingue de Kaká Barboza o estatuto de um dos mais importantes compositores e cantautores do mundo caboverdiano das ilhas e diásporas, também respondendo, e sempre, pelo mesmo nome Kaká Barboza-, que venho agora prestar a minha sentida e mais que merecida homenagem através da publicação de excertos de um mais longo ensaio da minha autoria sobre a poesia caboverdiana da afro-crioulitude e da negritude crioula, a ser dado, a seu tempo, à estampa.

   Nesse ensaio, as obras dos dois doravante Imortais das Letras Pátrias Caboverdianas ocupam lugares destacados, particularmente aquela lavrada em língua caboverdiana, e na sua vertente mais afro-crioulista, e que esses mesmos grandes Autores nos deixaram como inalienável legado e que certamente faremos por merecer, assim como Kaká Barboza fez por merecer, na obra sua lavrada e burilada, o legado dos seus patrícios Kaoberdiano Dambará, o autor do livro Noti, e Emanuel Braga Tavares (Xanon), o autor do célebre poema “Kabral ka more” e de outros poemas de grande envergadura, como “Kanponês di Kanpu Largu” ou “Gentis o Gentis…”, todos publicados na colectânea poética Mirabilis-De Veias ao Sol (Antologia dos Novíssimos Poetas Cabo-Verdianos); assim como Emanuel Braga Tavares também soube aprender com a lição, prenhe de acutilância metafórica, de Kaoberdiano Dambará, e este por sua vez bebeu em Pedro Monteiro Cardoso os muitos exemplos de dignidade, de perseverança, de orgulho nativo crioulo e de convicções pan-africanistas… Pedro Monteiro Cardoso, o Afro, a quem, aliás, Kaoberdiano Dambará dedica a muita avassaladora poesia em crioulo constante do seu livro Noti.

   Anote-se ainda que consideramos absolutamente justo e pertinente o título de Imortal que carrega o Homem de Cultura Carlos Alberto Lopes Barbosa/Kaká Barboza, tendo sido ele um proeminente membro-fundador e activista da Academia Cabo-Verdiana de Letras (ACL), cujos órgãos sociais sempre integrou, depois de ter sido membro-fundador e activista também destacado do Movimento Pró-Cultura (tendo sido, aliás, com José Luís Hopffer Almada, Daniel (Nhelas) Spencer e Fátima Brito Monteiro - esta entretanto expatriada para os EUA-, um dos quatro integrantes do seu núcleo inicial), da Associação de Escritores Cabo-Verdianos (AEC) e da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores (SOCA) que, oportunamente lhe prestou, ainda felizmente neste ano de 2020, uma Grande Homenagem em Vida, conjuntamente com o seu brother mais novo Princezito, no emblemático e prestigiante Palácio da Assembleia Nacional, no bairro da Achada de Santo António, da Cidade da Praia.  

     Consideramos igualmente que, mesmo não tendo ocupado em vida como Membro efectivo, fundador ou convidado, a cadeira que inquestionavelmente era do seu merecimento e lhe caberia por direito, é absolutamente justa e pertinente a atribuição desse mesmo título de Imortal da Literatura Caboverdiana a Felisberto Vieira Lopes/Kaoberdiano Dambará, bastando para tanto reconhecer-lhe, agora e a título necessariamente póstumo, o estatuto de Co-Patrono da Academia Caboverdiana de Letras, diga-se, desde já, um dos mais dignos e importantes que ela pode exibir na sua mais icónica e selecta lista de Imortais.

   Marcante e glorificadora nessa circunstância seria ainda a reedição de Noti, o célebre livro de poesia da sua autoria, numa versão com os poemas na grafia original lavrada pelo punho, pela sensibilidade, pela alma, pelo coração e pelo cérebro de Kaoberdiano Dambará e constante da já esgotadíssima primeira edição de 1964, e numa outra versão com a grafia sustentada no alfabeto caboverdiano oficial, o ALUPEC, sendo ambas as versões devidamente acompanhadas do Prefácio da edição original (curiosamente o único texto do livro Noti vazado em português e assinado por Ioti Kunta (nome de guerra daquele que viria ser, a partir de 1968, o dirigente político clandestino máximo do PAIGC em Cabo Verde, Jorge Querido). Deste modo, poder-se-ia aquilatar melhor sobre o importante contributo trazido pelo livro Noti para a construção de um rosto próprio para o nosso idioma crioulo e a estabilização de uma grafia sistemática e de uma escrita ortograficamente coerente em língua caboverdiana. Como exemplo seja referido o uso generalizado do K (capa) e do I (do Badio, como sói dizer-se, mas que também é de Djabraba e de Djarfogo) no livro Noti, de Kaoberdiano Dambará, e que, depois, mas ainda antes da adopção dos vários alfabetos oficiosos e do alfabeto oficial da língua caboverdiana, todos de base fonético-fonológica, ou paralelamente à utilização de alguns desses alfabetos, viria a ser retomado por proeminentes poetas caboverdianos crioulógrafos como os malogrados Emanuel Braga Tavares, Kaká Barboza (por exemplo, no livro Vinti Xintido Letrado na Kriolo, na versão com a grafia da lavra do poeta, publicada conjuntamente com a versão escrita com base no chamado alfabeto do Mindelo e da responsabilidade da Direcção-Geral da Cultura, presumivelmente da autoria material do linguista Manuel Veiga, o principal responsável pela criação desse mesmo alfabeto).  

   As Medalhas do Dragoeiro, da Liberdade e/ou Amílcar Cabral, enquanto Mais Altas Condecorações do Estado Caboverdiano atribuídas pelo Presidente da República de Cabo Verde, também a título póstumo, certamente não desmereceriam esses nossos grandes Autores.

   Anote-se neste contexto e a título de mera curiosidade que, tendo sido Kaká Barbosa um justo agraciado com a Medalha do Vulcão, de Primeira Classe, uma das mais importantes Condecorações do Estado Caboverdiano na área cultural, atribuída pelo Presidente da República Pedro Verona Rodrigues Pires, bem como da Medalha de Mérito Cultural, de Primeira Classe, outorgada pelo Primeiro-Ministro José Maria Pereira Neves, Felisberto Vieira Lopes/ Kaoberdiano Dambará não mereceu em vida qualquer atenção honorífica do Estado Caboverdiano, não se sabe se por grosseiro/negligente esquecimento ou displicente represália desse mesmo Estado contra o cidadão destemido e crítico ou por teimosa recusa do próprio, conhecidos que eram o feitio relutante e a postura reservada dele em casos idênticos ou susceptíveis de induzir outrem na crença numa qualquer subserviência, condescendência ou cumplicidade pessoal sua em face dos poderes instituídos/constituídos, mesmo os mais legítimos.

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