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PAICV, legislativas e conflitos internos
Colunista

PAICV, legislativas e conflitos internos

...a renovação das listas do PAICV para as legislativas é, e há de ser sempre, uma opção natural. Ninguém faria diferente. Cremos crer que ninguém de boa fé e em perfeita amizade colocaria em causa a renovação das listas para as legislativas no seio do PAICV. Como certo dia alguém disse, “nem todos os apoios, resultam em mais apoios”. Independentemente dos conflitos geracionais e dos desejos de cada qual, o momento político em presença recomenda o recrutamento de novas competências, arregimentando assim o partido com novas valências para a batalha que aí vem. O caminho é para frente. Como recomendava o grande Fidel Castro, “para trás nem para tomar impulso”.

A eleição de Janira Hopffer Almada para a liderança do PAICV, em finais de 2014, foi como que um balde de água fria lançada sobre a cabeça da elite deste partido da esquerda democrática e progressista. Os maiorais não esperavam tal façanha de uma jovem mulher, ainda a ensaiar os primeiros passos nos íngremes e traiçoeiros atalhos da política. Entre o surpreso e o incrédulo, tiveram que aceitar a desfeita – os resultados do escrutínio não deixavam dúvidas – mas jamais engoliram a “traição”. E de então para cá o PAICV mergulhou-se numa violenta crise interna, na qual tem sido evidente o conflito entre gerações e o egoísmo de muitos que se consideram os “legítimos donos" do partido.

Os conflitos geracionais nas organizações é algo natural. Aliás, consta que ao redor do mundo, cerca de 75% das organizações enfrentam problemas de conflito entre gerações. É certo que esse percentual requer uma cuidada avaliação, pois muitos casos talvez não sejam, de fato, motivados pela diferença de idade, e sim, por outras variáveis, que pela sua natureza e predisposição, não se resolvem com aplicação de estatutos ou manuais de conduta e procedimentos internos.

O PAICV é um partido com uma longa história no processo de desenvolvimento do Cabo Verde contemporâneo. Governou o país por longos 30 anos e conseguiu congregar nas suas fileiras um grande manancial de quadros com elevada capacidade e competência técnica, académica e política, a nível nacional. Esse potencial acaba lhe conferindo o estatuto de um dos maiores partidos políticos cabo-verdianos, exponenciando os seus desafios internos e externos, o seu papel no processo de democratização do país e as responsabilidades dos seus dirigentes na definição do destino coletivo, do bem-estar social, e na defesa do desenvolvimento nacional.

Cremos não ser estranho para ninguém que dirigir um partido com a dimensão do PAICV é tarefa árdua, exige um elevado sentido de Estado, penetrante sageza na gestão dos seus membros e profunda sabedoria na identificação de caminhos de política a serem trilhados, de modo a preservar os fundamentos estratégicos do desenvolvimento do país, e, simultaneamente, manter a família engajada, os soldados paramentados e motivados e as fundações ideológicas incólumes.

Ora, tal empreitada não é para qualquer um. O povo diz – e o povo não se engana – que desejo não é poder. As organizações, enquanto sistema, só funcionam bem, se todas as suas partes integrantes estiverem bem. Muitos desejos individuais, outros grupais, conseguiram, em momentos bem identificados, atrapalhar o bom funcionamento do PAICV. Houve momentos em que esses desejos se sentiram tentados a decidir pelos órgãos do partido, beliscando e violando os estatutos e as diretrizes emanadas de entidades internas legalmente competentes para o efeito.

Mas esses percalços não foram suficientemente fortes para parar – embora, como atrás foi dito, em certas ocasiões terão conseguido atrapalhar um pouco - o combate político da liderança de Janira Hopffer Almada contra um governo que se afirma liberal, amigo de empresários amigos, e totalmente alheio aos gritos de um povo mergulhado no desemprego, na pobreza e no descrédito, lançado na marginalidade e vinculado às injúrias dos apoios conjunturais de um poder público manhoso, insensível e traidor da confiança popular.

E é assim que, contra ventos e marés, a liderança de Janira Hopffer Almada concebe e executa um sério combate político ao MpD, desconstruindo os discursos de um governo que falhou nas suas principais promessas – emprego, segurança, transportes e transparência – ao ponto de vir a ser abandonado, num período de menos de 60 dias, por dois ministros, da Educação e dos Negócios Estrangeiros, e a menos de 4 meses do fim do mandato.

O combate da liderança de Janira Hopffer Almada valeu ao PAICV a conquista de 8 câmaras municipais nas eleições autárquicas de 25 de outubro. Se até essa data, os seus adversários internos ainda podiam alimentar alguma esperança em como a estratégia política da sua liderança levaria o partido à derrota e ao descrédito, esses resultados vieram recolocar as pedras nos seus respetivos lugares, levantando a cara do partido para os próximos embates eleitorais, nomeadamente legislativas e presidenciais.

Com efeito, o PAICV apareceria nas autárquicas com caras novas, com listas renovadas, homens e mulheres da sociedade, comprometidos com o desenvolvimento do país e com o bem-estar social dos seus respetivos municípios. E o resultado está à vista de todos. Descapitalizar um MpD hegemónico, com 18 câmaras municipais das 22 existentes no país, em apenas 4 anos, não é, como muito bem define a voz do povo, para quem quer, é, sim, para quem pode, efectivamente.

Ora, pois, é com base nesses pressupostos, que a renovação das listas do PAICV para as legislativas é, e há de ser sempre, uma opção natural. Ninguém faria diferente. Cremos crer que ninguém de boa fé e em perfeita amizade colocaria em causa a renovação das listas para as legislativas no seio do PAICV. Como certo dia alguém disse, “nem todos os apoios, resultam em mais apoios”.

Independentemente dos conflitos geracionais e dos desejos de cada qual, o momento político em presença recomenda o recrutamento de novas competências, arregimentando assim o partido com novas valências para a batalha que aí vem. O caminho é para frente. Como recomendava o grande Fidel Castro, “para trás nem para tomar impulso”.    

 

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SOBRE O AUTOR

Domingos Cardoso

Editor, jornalista, cronista, colunista de Santiago Magazine